O Estado de S. Paulo
As manchetes do Estadão e dos principais
jornais do País do último dia 15, estampando uma queda abrupta das previsões de
crescimento para um patamar abaixo de 1% em 2022, promoveram tamanha
inquietação entres os governistas que logo depois começou a tomar forma o
acordão para a aprovação dos projetos mais imediatos para destravar o
Orçamento.
Àquela altura, o presidente Jair Bolsonaro
já tinha divulgado a “Carta à Nação”, escrita pelo ex-presidente Michel Temer
após as manifestações do feriado de 7 de Setembro, e o comando do Congresso –
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco – insistia na tecla de que era preciso se voltar
para o “Brasil real”.
O derretimento das previsões puxado pelo banco Itaú, que cortou a sua previsão de 1,5% para 0,5%, foi um banho de água fria na aposta do governo e de aliados na melhora do mercado. Ficou tudo fora de controle.
A queda das projeções sinalizava um cenário
de piora das expectativas alimentado pela perspectiva de inflação e juros mais
altos, que (aliás) vão se confirmando.
O ministro Paulo Guedes se indignou, porque
viu na redução das previsões um movimento de pressão política contra o governo
Bolsonaro.
Para não botar lenha na fogueira e
alimentar esse processo de queda das previsões, a Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Economia, responsável pela elaboração das
estimativas usadas no Orçamento, manteve a sua projeção de alta de 2,5% para
2022.
Fez uma aposta de alto risco, rompendo uma
sintonia fina observada nos últimos tempos entre as expectativas do governo e
as do mercado – enquanto a última pesquisa Focus do Banco Central, que coleta
previsões do mercado, desacelerava a projeção de alta do PIB de 1,72% para
1,63%. Patamar bem mais baixo do que o do governo, mas ainda acima do 0,5%
projetado pelo Itaú e outras consultorias.
Nessa queda de braço de projeções, o
secretário da SPE, Adolfo Sachsida, partiu para o ataque e publicou uma nota
para rebater o movimento do mercado. O governo continua contando com a
vacinação em massa para dinamizar o setor de serviços, especialmente os prestados
às famílias, e o investimento privado (o acumulado em quatro trimestres mostra
elevação de quase 11%) para sustentar sua projeção de crescimento mais alto.
E está esperando um aumento forte do
emprego informal em contraponto a um crescimento do PIB mais moderado. Chama
atenção a posição da equipe econômica de que as projeções mais baixas de PIB do
mercado levam em conta uma queda significativa do índice em algum trimestre em
2022 ou uma nova recessão no próximo ano, fatos esses que, na avaliação do governo,
seriam difíceis de justificar com base no cenário fiscal atual e na ausência de
uma crise hídrica ou de uma piora na pandemia.
A próxima pesquisa Focus, que será
divulgada na segundafeira, vai indicar se o governo e os líderes governistas
conseguiram segurar a sangria que foi impulsionada também pelos ruídos
políticos.
O governo reclama das projeções, mas segue
com uma péssima comunicação. Depois dos Ministérios da Economia e da Cidadania
indicarem que o benefício do novo Bolsa Família será de R$ 300, o presidente
Jair Bolsonaro voltou publicamente a pedir um valor mais alto ao ministro
Guedes.
Um jeito meio torto de o presidente
justificar mais à frente o que, na verdade, ele e muitos dos seus aliados
querem: a renovação do auxílio emergencial, que tem alcance muito maior do que
o programa Bolsa Família e cujas despesas ficam fora do teto de gastos, sem ser
empecilho para o aumento das emendas parlamentares no Orçamento de 2022.
Bolsonaro volta de novo ao mesmo ponto após
esse estágio ter sido superado com a publicação de decreto, assinado por ele
mesmo (e já em vigor), para aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) para bancar o lançamento do novo programa social neste ano.
Foi, então, em vão o aumento do IOF?
A comunicação do governo continua
alimentando as incertezas que empurram as projeções para baixo.
Não dá para o governo aumentar imposto para
compensar a criação de um programa social e depois resolver mudar de rota com a
prorrogação do auxílio emergencial para combater os efeitos da pandemia da
covid-19, que o próprio governo diz que está sendo superada com a vacinação.
Não vai colar, se quiser respeitar a legislação em vigor. Mas na política
brasileira sempre cabe um jeitinho. Ontem, hoje e amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário