Folha de S. Paulo
É preciso fortalecer o SUS e aumentar os
investimentos no sistema
São estarrecedoras, mas não exatamente
surpreendentes, as denúncias envolvendo a operadora de planos de saúde Prevent
Senior. A suspeita de que há algo de podre na rede de hospitais da empresa
abriu nova e necessária frente de investigação na CPI da Covid.
Entre as irregularidades, estariam a prescrição abusiva de medicamentos e tratamentos ineficazes, sem que os pacientes e seus parentes tivessem sido consultados. As ilicitudes apontadas incluem ainda ameaçar os médicos de demissão para que receitassem esses remédios e também fraude de suposta pesquisa científica, prontuários e atestados de óbito, o que resultaria em subnotificação de casos de Covid.
Tudo isso é grave, criminoso e cruel, mas
se encaixa na lógica do modelo de negócio dos planos de saúde. Para capturar
incautos, prometem mundos e fundos. Na prática, dificultam o acesso aos
serviços, sobretudo se o paciente precisar de uma internação, um dos itens mais
caros do setor.
Mal ou bem, é assim que funciona. Mais mal
do que bem, tanto que os consumidores frequentemente têm que recorrer à Justiça
para que muitas dessas arapucas cumpram o que já está nos contratos. Aí vem uma
pandemia e o tal modelo de negócio implode porque, de uma hora para outra,
milhares de clientes precisam dos leitos mais caros, em UTIs, e por muito
tempo.
No caso da Prevent Senior, voltada ao
público idoso, o mais afetado nos primeiros meses da pandemia, não é difícil
imaginar o estrago na margem de lucro. Daí para empurrar cloroquina goela
abaixo dos pacientes e vender a ilusão de que eles poderiam se tratar em casa é
um pulo.
Esse caso nos faz refletir sobre médicos e
monstros e nos mostra que saúde não pode ser tratada como negócio. A alternativa
nós já temos. É preciso fortalecer e aumentar o investimento no Sistema Único
de Saúde, o nosso SUS, porque saúde é direito humano e coletivo.
Dou umas férias aos prezados leitores.
Volto em 23 de outubro.
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