Folha de S. Paulo
Depois que um lugar fica conhecido pelo
nome, mudá-lo gera confusão
Adorei a justificativa que Jair Bolsonaro
deu para vetar o projeto
de lei que batizava com o nome de João Goulart uma rodovia federal.
“Busca-se que personalidades da história do país possam ser homenageadas em
âmbito nacional desde que a homenagem não seja inspirada por práticas
dissonantes das ambições de um Estado democrático”, fez estampar o presidente
no Diário Oficial.
Se isso se firmar como jurisprudência, Bolsonaro assegura que seu nome nunca será dado nem a uma pinguela federal. Não há, afinal, nada mais “dissonante das ambições de um Estado democrático” do que o capitão reformado que trabalha incansavelmente para erodir as instituições e cujo governo trouxe enormes retrocessos em campos tão variados como meio ambiente, direitos humanos, educação, ciência.
O que eu gostaria de discutir hoje, porém,
é o hábito de batizar logradouros públicos com o nome de indivíduos. Fazemo-lo
por dois motivos, para homenagear pessoas que julgamos merecedoras e porque
ruas e estradas precisam de um nome. É muito mais fácil nos referirmos a elas
por meio de um designador rígido do tipo “rua Fulano de Tal” do que por
descrições como “a via que liga a padaria do Zezinho ao ponto de ônibus perto
da avenida”, que só locais seriam capazes de compreender.
Vivemos numa
era polarizada em que até o passado é incerto. Antigos heróis
tornam-se, da noite para o dia, vilões e vice-versa. Mas, se não há grandes
custos em rever uma homenagem que passou a ser considerada indevida, a coisa
não é tão simples no que diz respeito à função de referência. Depois que um
lugar recebeu o nome de batismo e por ele ficou conhecido, mudá-lo gera
confusão e desencontros. É só pensar na trabalheira que você tem para atualizar
cadastros quando muda de casa.
Como nada indica que virão tempos mais
tranquilos, minha sugestão é que utilizemos apenas números e nomes de coisas
para batizar logradouros.
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