Folha de S. Paulo
'Casta: as Origens de Nosso Mal-Estar', de
Isabel Wilkerson, é o livro do ano
Antes de mais nada, um aviso: a partir
deste ano, livros publicados no fim do ano anterior concorrem no ano seguinte.
O motivo é simples: posso demorar para descobrir que um livro existe. Dito
isto, aqui vai minha lista de melhores livros de política de 2021.
"Portas Fechadas", do historiador
Adam Tooze, é a primeira grande obra sobre a reação dos
governos à crise econômica da pandemia. Vale acompanhar se as mudanças que
identificou nas ideias subjacentes às políticas implementadas serão duradouras.
Depois da eleição brasileira de 2018, a
resposta deveria ser óbvia, mas "Por que Eleições Importam?", de
Adam Przeworski, oferece uma defesa da democracia especialmente boa se
você não acredita nos argumentos idealistas normalmente utilizados em sua
defesa.
Em "O Brasil contra a Democracia", Roberto Simon reconta, com base em novos documentos, o apoio da ditadura brasileira ao golpe contra Allende e à ditadura de Pinochet. "O Ano da Cólera", de Sylvia Colombo, discute a turbulência na América Latina após o fim do ciclo das commodities. Espero que as duas obras nos ajudem a discutir nossos problemas com mais atenção à dinâmica do continente.
No excelente "Dano
Colateral", Natalia Viana discute os vários casos em que os
militares foram utilizados em operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Viana prova que, antes
de os militares ocuparem o vácuo da política, ocuparam o vácuo da polícia.
"Menos
Marx, Mais Mises", de Camila Rocha, deve se tornar obra de
referência sobre a rede de intelectuais, instituições e políticos que
produziram os movimentos liberais e/ou conservadores que se destacaram na
oposição aos governos do PT.
Em um ano em que todas as catástrofes foram
provocadas por falta de impeachment, Rafael
Mafei publicou "Como Remover um Presidente", uma história do
instituto do impeachment no Brasil com discussões detalhadas dos casos
Collor e Rousseff e, o que é especialmente interessante, dos casos de
não-impeachment.
Em "Lava
Jato: Aprendizado Institucional e Ação Estratégica da Justiça",
Fabiana Alves Rodrigues descreve as estratégias institucionais da operação
concentrando-se nos espaços de discricionariedade deixados pela lei brasileira.
A pesquisa é anterior às revelações da Vaza Jato.
Como discutimos na coluna de 5 de dezembro,
o primeiro volume de "Lula:
Biografia", de Fernando Morais, se destaca pelas novas
informações trazidas sobre o início da vida sindical e política de Lula. O
mesmo vale para "Lula
and his Politics of Cunning", do historiador americano John D. French.
As duas obras, em um certo sentido, se completam: French é um estudioso de
longa data do sindicalismo do ABC, Morais teve mais acesso ao personagem
principal dos dois livros.
Lucas Ferraz poderia ter escrito um estudo
ruim sobre a história dos cinco guerrilheiros brasileiros julgados e condenados
por seus próprios companheiros durante a ditadura, e talvez vendesse mais
livros se o fizesse. Entretanto, em "Injustiçados",
optou por escrever um livro bom e cuidadoso sobre um tema difícil.
Finalmente, "Casta:
as Origens de Nosso Mal-Estar", de Isabel Wilkerson,
apresenta discussões sociológicas muito complexas sobre raça e poder de forma
analiticamente sutil e estilisticamente brilhante. É o livro do ano de 2021.
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