O Globo
No domingo passado, ao comentar em sua
coluna a crise na Receita Federal, onde centenas de auditores entregaram seus
cargos de direção, Míriam Leitão relatou o clima de “indignação” e citou alguns
exemplos do “plano de demolição” de Bolsonaro imposto a outras áreas, como
Ibama, ICMbio, Iphan, Funai, Fundação Palmares, Ministério da Educação. A essa
lista, eu acrescentaria a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Quem tinha dúvidas sobre as segundas intenções de Bolsonaro ao pressionar para que se publicasse o nome de servidores da Anvisa que aprovaram a imunização de crianças entre 5 e 11 anos perdeu a inocência ao tomar conhecimento de que as ameaças de violência e até de morte foram tantas que a agência teve de pedir proteção policial aos ameaçados. A situação chegou a tal ponto que o diretor-presidente da Anvisa, o almirante Antonio Barra Torres, confessou em entrevista a Melissa Duarte, aqui no GLOBO: “Temo pelos servidores da Anvisa”. Ele ressalvava que, por mais que haja um esquema de proteção, “quem está nas pequenas cidades ou nos aeroportos com colete da Anvisa é alvo fácil”. Segundo ele, já há “mais de 170 ameaças compiladas”.
“Qual o teor das mensagens?”, perguntou a
repórter. Resposta: “Morte, humilhação, perseguição, promessas de atos
violentos, transferência de responsabilidade”. Ele não se conforma com a
manutenção inalterada do que chama de “estatística macabra”— 301 crianças
mortas na faixa de 5 a 11 anos, desde a chegada da Covid-19 até o início de
dezembro. Nesses 21 meses, houve pouco mais de 14 mortes ao mês, praticamente
uma a cada dois dias. A pergunta que Barra Torres faz é: se a consulta pública
é tão importante, por que não foi feita antes?
O problema é o tom que se dá ao dizer:
“Vamos revelar nomes para que vocês façam o seu juízo”. Ele não revelou o autor
da frase. Talvez porque não fosse necessário.
A pergunta final é se Barra Torres defende
a vacina obrigatória. Ele responde que não. “O dono do corpo é o cidadão, ele
decide o que deve ingerir. Agora, defendemos uma campanha de informação da
vacina, em que o Brasil sempre foi líder no mundo. Mais de 160 milhões de
brasileiros fizeram a opção pela vacina.”
Entre eles, minha neta, Alice, que fez
questão de se vacinar no dia em que completou 12 anos. Agora só falta o irmão
dela, Eric, de 9 anos. Nós, os avós e os pais, não vemos a hora.
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Aproveito a última coluna do ano para
agradecer e homenagear os trabalhadores da área de Saúde — os da linha de
frente, como médicos, enfermeiros, maqueiros, motoristas — e aqueles que
ajudaram a imprensa a entender e explicar para o leitor a pandemia. Concentro o
agradecimento em Margareth Dalcolmo, também chamada “Nossa Senhora dos
Jornalistas”. Não sei o que seria de nós e, portanto, dos leitores e
telespectadores sem sua disposição de atender a qualquer hora a insistência,
quando não impertinência, destes que a têm no lugar mais elevado no altar de
nossa admiração.
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