O Globo
Fora do prazo e fora do tom, os militares
continuam com as suas querelas contra o processo eleitoral. Espera-se que
depois da resposta de ontem do Tribunal Superior Eleitoral se encerre esse
bombardeio que tem o claro objetivo de desacreditar a Justiça Eleitoral. Na
economia, enquanto isso, o dólar voltou a subir, a bolsa teve queda de 1,79%,
zerando o ganho do ano, o diesel foi reajustado, mas a gasolina não subiu
apesar de também estar defasada. Há uma crise na economia que tem a cara que o
país conhece e detesta: a inflação.
Esse tumulto institucional criado pelo presidente da República, e que recebeu o respaldo do Exército e do Ministério da Defesa, só agrava a crise econômica. Antes era ruído, e isso era negativo o suficiente. Nas últimas semanas houve uma escalada do presidente para elevar o clima de confronto e desta forma hipnotizar seus eleitores mais fanáticos. Bolsonaro sempre foi assim. Na falta de ideias ou de capacidade de governar, ele grita, ofende, cria confusão. Esse é o resumo dos seus inúteis mandatos parlamentares e é também o retrato do seu governo. Agora o que ele quer é pior. Como já disse aqui neste espaço, Bolsonaro está plantando a impugnação das eleições. O concurso das Forças Armadas nesta aventura é o ingrediente mais desestabilizador.
A inflação está corroendo o orçamento das
famílias e tirando o horizonte das empresas. Famílias cortam o consumo,
empresas postergam investimentos. A variável que mais atenuava as altas dos
preços deixou de ajudar a economia desde quatro de abril. Naquele dia, o dólar
chegou ao seu piso de R$ 4,59. Desde então subiu 12,2%. Ontem, com alta de 1,5%, fechou em R$ 5,15. Amanhã será
divulgada a inflação de abril e, apesar da queda da tarifa extra de energia, o
índice deve ficar perto de 1%, levando o acumulado em 12 meses para 12%. A
trajetória dos próximos meses ainda é nebulosa, e os bancos e consultorias
fazem apostas as mais variadas. O Bradesco elevou em quase um ponto percentual
sua projeção da inflação, mas ainda está em 7,6%. O BNP Paribas reavaliou sua
previsão para 10%. A Petrobras subiu ontem o diesel em 8,87%. A Associação dos
Importadores estimava a defasagem em 17% no diesel, antes do aumento, e calcula
em 19% a da gasolina. O aumento não zerou a diferença e ainda tratou dois
derivados da mesma matéria-prima com políticas diversas.
O mercado enxerga o cenário de uma inflação
espalhada, o que derruba a tese de que tudo seja explicado pelo contexto
internacional. Na verdade, há várias causas para o fenômeno, mas a má
administração do país e as crises institucionais criadas por Bolsonaro estão
entre as razões determinantes. Há uma inflação do contexto global, sim, mas há
também no país uma inflação Bolsonaro.
A alta de alimentos no ano pode chegar a
17%. Os produtos industriais devem subir 10%. A inflação de serviços pode ficar
em torno de 9%. A área econômica, na tentativa de ajudar o presidente na
corrida eleitoral, perdeu todos os pudores fiscais. Tem aprovado ou formulado
ideias para garantir algum crescimento e segurar os preços. O Bradesco ontem
revisou para 1,5% a projeção da alta do PIB este ano. Mesmo se for confirmado,
é muito pouco, e está sendo conseguido pelos estímulos.
Queda de impostos num país com carga tributária alta parece boa
notícia, mas os cortes de IPI que têm sido anunciados não obedecem a qualquer
lógica econômica. A administração sabotou o projeto de reforma
tributária, agora planeja fazer uma reforma apressada para dizer que seguiu seu
programa. Na área da energia, o governo quer postergar reajustes em manobras
que são verdadeiras pedaladas elétricas.
Na área fiscal, o governo desmoralizou o
teto de gastos com sucessivas mudanças na lei. Ontem, a “Folha de S. Paulo”
publicou reportagem calculando que doze mudanças foram feitas na LRF através de
emendas ou de despesas que aproveitaram as brechas. Elas vão dos R$ 8 bilhões
colocados na estatal militar Emgepron, em 2019, aos precatórios dependurados
acima do teto, no ano passado, para dar dinheiro para emendas parlamentares.
A inflação está em dois dígitos há sete meses, o presidente produz crises institucionais sucessivas e o Ministério da Economia aceita ampliar despesas para ajudar na campanha eleitoral. O Brasil está em vivendo duas crises, a política e a econômica. Elas se misturam.
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