sábado, 27 de maio de 2023

Sergio Lamucci - Resultado traz cenário um pouco mais favorável

Valor Econômico

Indicações são de que os juros altos estão fazendo mais efeito sobre a dinâmica dos preços

resultado do IPCA-15 de maio surpreendeu para baixo. Subiu 0,51%, bem abaixo do 0,64% do consenso do Valor Data, e perdendo fôlego pelo terceiro mês seguido – em abril, tinha avançado 0,57%. O número mostrou um cenário um pouco mais favorável para a inflação, embora a abertura do indicador aponte para um quadro não tão benigno, como fica claro nos núcleos e no caso dos serviços que mais respondem ao ciclo econômico.

Em 12 meses, o IPCA-15, a prévia da inflação oficial, passou de 4,16% em abril para 4,07% em maio, a menor variação desde outubro de 2020 nessa base de comparação. Esse número, vale lembrar, ainda carrega a influência dos cortes de impostos promovidos no segundo semestre de 2022, que derrubaram os preços de combustíveis e energia elétrica.

A desaceleração do IPCA-15 de abril para maio se deveu ao impacto da queda dos preços da gasolina e das passagens aéreas, como destaca a economista Andréa Angelo, da corretora Warren Rena. A gasolina recuou 0,21% e as passagens aéreas tiveram um tombo de 17,26%. Juntas, tiraram 0,31 ponto percentual do indicador, estima Andréa, afirmando que artigos de residência e energia também ajudaram “na descompressão”. Na direção contrária, alimentação no domicílio pressionou o IPCA-15 para cima, ao passar de uma deflação de 0,15% em abril para uma alta de 1,02% em maio. Produtos farmacêuticos também subiram com força, avançando 2,68%.

Medidas que tentam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis, os núcleos do indicador tiveram uma desaceleração mais modesta. A média dos cinco mais acompanhados pelo BC passou de 0,45% em abril para 0,42% em maio, fazendo o acumulado em 12 meses caiu de 7,49% para 6,76%, segundo a MCM Consultores Associados. É a primeira vez que a média desses núcleos fica abaixo de 7% nessa base de comparação desde outubro de 2021, mas ainda assim é um número bem acima da meta perseguida pelo BC neste ano, de 3,25%.

Os serviços, por sua vez, tiveram deflação de 0,06% no mês, bem abaixo da alta de 0,53% do mês anterior. O número, porém, foi muito puxado pelo tombo das passagens aéreas. A inflação subjacente de serviços, que concentra os itens mais sensíveis à demanda, teve comportamento menos favorável, passando de 0,51% em abril para 0,45% em maio. Essa medida exclui os grupos de serviços domésticos, turismo, cursos e comunicação. Em 12 meses, recuou 7,41% para 6,85%. Os números são da MCM.

Mas um outro subgrupo de serviços mostrou uma desaceleração considerável – o de serviços intensivos em trabalho, que reúne itens como empregado doméstico, cabeleireiro, médico e dentista. Em maio, subiu 0,34%, abaixo do 0,51% de abril.

Entre as boas notícias, o resultado dos núcleos e dos serviços numa das medidas preferidas dos analistas para avaliar o comportamento da inflação no curto prazo: a média anualizada de três meses, com ajuste sazonal, que evita a volatilidade excessiva do número mensal. Por esse critério, a média dos cinco núcleos acompanhados de perto pelo BC passou de 6,5% em abril para 6,2% em maio, depois de subir por três meses meses seguidos. No caso dos serviços subjacentes, a média anualizada de três meses, com ajuste sazonal, caiu de 6,1% para 5,8%, de acordo com a MCM.

Depois de alguns indicadores de inflação mostrando um quadro de desinflação lenta, o IPCA-15 de maio trouxe um quadro mais positivo, dando indicações de que os juros altos estão fazendo mais efeito sobre a dinâmica dos preços. Com a perspectiva de aprovação do novo arcabouço fiscal, deve acalentar as esperanças de parte dos analistas num corte menos distante da Selic, hoje em 13,75% ao ano. O BC, porém, tem indicado que não deve reduzir a taxa no curto prazo, reiterando que não há relação mecânica entre a aprovação do novo regime fiscal e a política monetária. As projeções para o IPCA deste ano tiveram queda importante no Boletim Focus divulgado na segunda-feira. Se esse movimento se repetir também para as estimativas para os anos seguintes, as chances de um corte de juros mais próximo aumentarão.

 

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