Valor Econômico
Aprovação da MP 1185 significaria, segundo
estimativas da Fazenda, uma arrecadação de R$ 128,9 bilhões
Um líder governista dimensiona a importância
que o Executivo dá ao projeto de lei que servirá de barriga de aluguel para a
contestada medida provisória que mudava as regras de tributação dos incentivos
fiscais de Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS). A meta é
aprová-lo na Câmara nas próximas semanas. “As duas maiores brigas até agora
foram a PEC da Transição e a MP 1185”, diz o deputado. “A PEC da Transição e
essa MP são dinheiro na veia.”
Traduzindo: a proposta de emenda constitucional aprovada no período de transição viabilizou a decolagem do governo. Não foi à toa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a gastar seu cacife político antes mesmo de tomar posse.
Inicialmente, é verdade, o gabinete de
transição queria ampliar o prazo de vigência da PEC para 2024, o que não foi
acolhido pelos parlamentares. Ainda assim, o dinheiro liberado pela PEC da
Transição permitiu que o governo Lula atravessasse 2023 sem que o ano se
transformasse em um extenso deserto.
Promulgada no dia 21 de dezembro do ano
passado, a PEC da Transição permitiu ao novo governo aumentar em R$ 145 bilhões
o teto de gastos no Orçamento de 2023 para bancar despesas como o Bolsa
Família, o Auxílio Gás e a Farmácia Popular. Também viabilizou algumas das
políticas prometidas durante a campanha eleitoral e que não teriam como ser
executadas por causa da penúria à qual as contas públicas chegaram no fim da
administração anterior. Ela foi fundamental para sustentar o consumo e, na
avaliação de autoridades do governo, assegurar que o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) fique na casa dos 3%.
A proposta de emenda constitucional permitiu,
ainda, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fechasse as contas do último ano
de seu mandato. Sob a ótica do atual governo, pagou-se o pedágio para
viabilizar sua aprovação. Outro efeito colateral foi a realocação dos recursos
do chamado “orçamento secreto”, depois que o modelo tradicional de emendas de
relator foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No caso dos dispositivos inicialmente
previstos pelo governo na MP 1185, a expressão “dinheiro na veia” vem
acompanhada das estimativas da equipe econômica. Confirmada a previsão de
arrecadação, seriam R$ 128,9 bilhões nos cofres do Tesouro Nacional: R$ 26,3
bilhões no ano que vem, R$ 32,4 bilhões em 2025, R$ 34,1 bilhões no ano
seguinte e R$ 36,1 bilhões em 2027.
É muito. Mas a sentença do líder aliado
carrega também um valor intangível: em última instância, acrescenta o frequente
interlocutor do Palácio do Planalto, a tramitação da proposta pode significar o
sucesso ou o fracasso da promessa da equipe econômica de zerar o déficit
primário em 2024. O projeto de lei que substitui a medida provisória já foi
enviado pelo governo ao Congresso, e deve tramitar em regime de urgência para
que passe também pelo Senado o mais rapidamente possível.
Seu objetivo é mudar as regras de taxação dos
incentivos fiscais do ICMS, retomando a diferença na tributação federal para
subvenções de custeio e investimento.
Na visão do governo, toda legislação que
concedeu benefícios fiscais foi para a subvenção para investimento, e não
custeio. Mas os contribuintes começaram a interpretá-la jogando todo o
benefício como investimento. Com isso, foram também abatendo o benefício da
base de cálculo de impostos federais.
Não é uma missão fácil. Tanto que o governo
já foi levado a desistir da MP e acabou decidindo enviar o texto novamente ao
Congresso via projeto de lei. O rito será menos sumário, a iniciativa será
ainda mais exposta a pressões.
A proposta sofre severas críticas do setor
produtivo, o qual reclama de insegurança jurídica. E tem também inimigos entre
alguns governadores. Para o governo federal, aliás, esses gestores estaduais
tentam manter algumas das armas que utilizam na guerra fiscal antes da
aprovação da reforma tributária no Senado. Eles são majoritariamente de
partidos de oposição, das regiões Sul e Sudeste.
Mas o governo considera defender uma bandeira
legítima. Argumenta, também, que ela é fundamentada em uma decisão do Superior
Tribunal de Justiça (STJ). Ou seja, a despeito de questionamentos até mesmo de
técnicos da área econômica, está mais calçada para evitar frustrações na
arrecadação. Como disse o influente deputado, a expectativa é de “dinheiro na
veia”.
Por isso, até agora a preocupação com essa
proposta supera, e muito, ao receio que se vê em relação ao avanço da taxação
dos fundos “offshore” e exclusivos.
Na semana passada, mesmo com a viagem ao
exterior do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a avaliação dos
articuladores políticos do governo era que a base teria condições de forçar a
aprovação da proposta de taxação dos fundos. Decidiu-se não comprar a briga. A
votação ficou para esta quarta-feira (25).
Quem faz a ponte com Lira sabe que ele não
receberia bem a mensagem de que sua presença não é vista mais como essencial. A
própria agenda econômica poderia se tornar uma vítima mais à frente. No caso, o
projeto de lei que substitui a MP 1185.
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