terça-feira, 28 de novembro de 2023

Alvaro Costa e Silva - Crimes de Bolsonaro na pandemia seguem impunes

Folha de S. Paulo

Anistia em curso quer provar que tudo não passou de uma gripezinha

Na série "Histórias da Política", da Folha, Fábio Zanini revelou que em junho de 2021, quando o Brasil atingiu a marca de 488 mil mortes pela Covid-19 e a imunização iniciada em janeiro começava a reduzir o número de contágios e óbitos, ministros do governo tentaram convencer Bolsonaro a se vacinar publicamente. Para aproveitar as notícias positivas e o impacto do auxílio emergencial de R$ 600, era o momento de virar o disco da polarização, esquecer o embate negacionista com governadores e prefeitos e cuidar da reeleição no sentido prático. Sem cloroquina.

Os conselheiros bolsonaristas atuaram mais por cálculo eleitoral que por preocupação sanitária, e fracassaram. "Vou pensar", desconversou o capitão. Para bom entendedor, era um não redondo. Não se imunizou e depois ainda falsificou o cartão de vacinação, coisas das quais se orgulha.

O comportamento doentio do ex-presidente em relação ao combate da pandemia foi muito além de não ter tomado a picada no braço. O estrago já estava feito. Bolsonaro militou ferozmente contra a vacina (chegou a dizer que quem a tomasse corria risco de pegar Aids). Recusou e retardou a compra de imunizantes, fazendo com que mais pessoas morressem. Escondeu cerca de mil relatórios de inteligência que projetavam aumento no número de casos e mortes no país.

CPI da Covid sugeriu o indiciamento de Bolsonaro, dos ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, de deputados e senadores. É uma longa lista de crimes, a qual inclui charlatanismo, prevaricação, emprego irregular de verbas públicas, infração a medidas preventivas. Dois anos depois do fim da comissão as investigações abertas pela Procuradoria-Geral da República emperraram ou estão arquivadas. Lula parece não se importar ou não ter pressa. Só agora indicou o novo PGR.

A trama de anistia política em curso está disposta a provar que tudo não passou de uma gripezinha.

 

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