Folha de S. Paulo
Anistia em curso quer provar que tudo não
passou de uma gripezinha
Na série "Histórias da Política", da Folha, Fábio Zanini revelou que em junho de 2021, quando o Brasil atingiu a marca de 488 mil mortes pela Covid-19 e a imunização iniciada em janeiro começava a reduzir o número de contágios e óbitos, ministros do governo tentaram convencer Bolsonaro a se vacinar publicamente. Para aproveitar as notícias positivas e o impacto do auxílio emergencial de R$ 600, era o momento de virar o disco da polarização, esquecer o embate negacionista com governadores e prefeitos e cuidar da reeleição no sentido prático. Sem cloroquina.
Os conselheiros bolsonaristas atuaram mais
por cálculo eleitoral que por preocupação sanitária, e fracassaram. "Vou
pensar", desconversou o capitão. Para bom entendedor, era um não redondo.
Não se imunizou e depois ainda falsificou o cartão de vacinação, coisas das
quais se orgulha.
O comportamento doentio do ex-presidente em
relação ao combate da pandemia foi muito além de não ter tomado a picada no
braço. O estrago já estava feito. Bolsonaro militou ferozmente contra a vacina
(chegou a dizer que quem a tomasse corria risco de pegar Aids). Recusou e
retardou a compra de imunizantes, fazendo com que mais pessoas morressem.
Escondeu cerca de mil relatórios de inteligência que projetavam aumento no
número de casos e mortes no país.
A CPI da Covid sugeriu
o indiciamento de Bolsonaro, dos ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello e
Marcelo Queiroga, de deputados e senadores. É uma longa lista de crimes, a qual
inclui charlatanismo, prevaricação, emprego irregular de verbas públicas,
infração a medidas preventivas. Dois anos depois do fim da comissão as
investigações abertas pela Procuradoria-Geral da República emperraram ou estão
arquivadas. Lula parece não se importar ou não ter pressa. Só agora indicou o
novo PGR.
A trama de anistia política em curso está
disposta a provar que tudo não passou de uma gripezinha.
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