terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Hélio Schwartsman - Epicuro na veia

Folha de S. Paulo

Lançamento de Política Nacional de Cuidados Paliativos é boa notícia, mas é preciso mudar a cultura

"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e, quando existe a morte, não existimos mais." A frase, de Epicuro, captura o que há de mais essencial sobre a morte. Seu corolário é que precisamos aproveitar a vida, buscando prazeres, cultivando amizades e tentando sempre agir de forma virtuosa. É preciso também evitar a dor e o sofrimento.

Nesse último item, o Brasil fracassa miseravelmente. No ranking de qualidade de morte da Universidade Duke, o Brasil ocupou, em 2022, a 79ª posição entre os 81 países estudados. O índice é bem ecumênico. O item que mais pesa é o controle da dor, mas também entram acesso a tratamentos, gentileza da equipe de saúde e até conforto espiritual para quem deseja. O Reino Unido, primeiro colocado na lista, obteve 93,1 pontos. O Brasil fez míseros 38,7, ficando à frente apenas do Líbano e do Paraguai.

Não quero, porém, soar mórbido. Depois de três anos de trevas no Ministério da Saúde, o governo Lula está lançando a Política Nacional de Cuidados Paliativos, um programa no qual pretende investir até R$ 851 milhões em 2024 para criar equipes multidisciplinares que disseminariam e dariam suporte técnico ao paliativismo em toda a rede assistencial do país.

Esse é um passo importante, mas a estrutura material não é a única frente de batalha. A questão cultural não é menos significativa. Ainda existe uma boa dose de preconceito desinformado contra o paliativismo. Os próprios pacientes que dele se beneficiariam não raro o veem com um pé atrás, identificando-o a uma espécie de desistência. Na verdade, existem várias fases e modalidades de cuidados paliativos, que idealmente começam com o diagnóstico de uma moléstia grave e vão até o último suspiro, que pode até se dar por outra causa que não a doença original. A meta é sempre poupar sofrimento e ampliar a qualidade de vida, em todas suas dimensões. É Epicuro na veia.


2 comentários:

Anônimo disse...

■■■Um bom programa do Ministério da Saúde.
■■Bom, não: EXCELENTE !
■■Política Nacional de Cuidados Paliativos, um programa para criar equipes multidisciplinares de suporte técnico ao paliativismo na rede assistencial do país, para ajudar pacientes que estejam experimentando extrema dificuldade de saúde.

Sentir dor e padecer sofrimento por doença é muito difícil, e suportar a dor é bem mais difícil quando, para além da vulnerabilidade psicológica e emocional que a doença nos causa, se vive essa dor sob a fragilidade do abandono material que a maioria dos brasileiros padecem.

Ter um programa de suporte à dor no momento de fragilidade por doença é absolutamente importante, e mais importante ainda em um país como o Brasil.

EXCELENTE !
EXCELENTE !
EXCELENTE !

E eu espero que a sensibilidade que inspirou um programa deste também ilumine o país para não desviar em sórdidas corrupções recursos públicos tão importantes para a comunidade brasileira, especialmente à parte que mais precisa do Estado.

Corrupção em qualquer lugar é um erro moral.
=》Corrupção de político em um lugar miserável como o Brasil é absoluta covardia!

ADEMAR AMANCIO disse...

Carácoles!