Valor Econômico
Algumas previsões equivocadas feitas por
analistas do mercado financeiro chamaram atenção
Não há no Brasil o hábito de conferir o
acerto de previsões feitas para o ano. E isso se justifica, porque o ideal é
olhar para frente em matéria de economia. Mas, com 2023 ficando para trás,
chamaram a atenção nos últimos meses algumas previsões equivocadas feitas por
analistas do mercado financeiro.
Quando IBGE divulgou o Produto Interno Bruto
(PIB) do segundo trimestre, por exemplo, foi uma surpresa. Os analistas
esperavam em média expansão de 0,3%, mas o resultado veio muito melhor:
crescimento de 0,9% na comparação com o primeiro trimestre, impulsionado
principalmente pelas commodities industriais. Em relação ao mesmo trimestre do
ano passado, a expansão foi de 3,4%, também bastante acima das expectativas do
mercado, de 2,7%. Com o resultado, analistas passaram a prever um crescimento
do PIB superior a 3% em 2023.
No terceiro trimestre, nova surpresa, embora menos significativa. Na véspera do anúncio oficial, o Valor havia ouvido 71 consultorias e instituições financeiras e a expectativa média era de uma queda de 0,2% no PIB. Mas o resultado veio melhor: 0,1% de crescimento em relação ao trimestre anterior. O que evitou um índice negativo foi a demanda, com o consumo das famílias crescendo 1,1%, algo não previsto pelos analistas.
Houve erros de previsão também na inflação.
Em outubro, o IPCA ficou em 0,24%, um pouco abaixo da mediana das projeções do
mercado financeiro, que indicavam 0,29%. Em novembro, outro resultado
ligeiramente abaixo das expectativas: 0,28%.
Pode-se dizer que esses erros não são
significativos nem uma exclusividade brasileira, o que é verdade. Mas vale
observar que, no caso do PIB do segundo trimestre, a diferença foi muito longe
da margem de erro. Em valores correntes, o PIB do trimestre totalizou R$ 2,651
trilhões. Houve um desvio de 0,6 ponto percentual, que significa cerca de R$ 16
bilhões, nada trivial.
O grande “profeta” da economia brasileira
chama-se boletim Focus. Sem objetivo de crítica e apenas para registro, o
colunista checou o acerto das principais previsões feitas pelo Focus para 2023.
Como se sabe, trata-se de um relatório publicado semanalmente pelo Banco
Central, com base nos resultados de pesquisas sobre as expectativas de
instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos. As
projeções são de bancos, gestoras de recursos, consultorias e, em alguns casos,
de empresas que possuem setores especializados no cálculo dos indicadores
macroeconômicos.
O economista Robinson Moraes, do Valor Data,
apurou as previsões para 2023 feitas pelo Focus em 23 de dezembro de 2022. E as
comparou com a realidade, ou seja, com o que aconteceu neste ano. Como o ano
não terminou e nem todos os dados estão disponíveis, algumas verificações
baseiam-se em resultados até outubro ou novembro.
A ilustração acima mostra que houve um erro
enorme na previsão do PIB. O Focus projetava crescimento de 0,79%, mas tudo
indica que o avanço será três vezes maior, de 3,0% a 3,2%. O erro, em conta de
padaria, alcança quase R$ 30 bilhões.
Na projeção de inflação, o Focus também
desfocou. Previu um IPCA de 5,73% no ano. Nos 12 meses até novembro, o índice
estava em 4,68% e, pelas previsões atuais, deverá fechar o ano dentro da meta
de 4,75%, considerado o intervalo de tolerância. Ao olhar para o IGPM, índice
de preços calculado pela Fundação Getulio Vargas, um erro colossal: inflação
prevista de 4,54% para uma deflação ocorrida de 3,46% em 12 meses até novembro.
Houve previsões não realizadas também para
dólar, superávit da balança comercial, déficit em conta corrente e investimento
direto.
Como foi dito acima, o objetivo não é
criticar os responsáveis pelas projeções. Todos os erros têm explicações
razoáveis, até porque o andamento da economia muda muito com decisões
governamentais inesperadas no país e no exterior e até por causa de guerras
que, infelizmente, tornam-se frequentes. De qualquer forma, talvez o Banco
Central pudesse olhar com mais cuidado para as fontes do boletim Focus e, quem
sabe, introduzir na pesquisa um pouco de “profecia” acadêmica, que teoricamente
não se orienta em função de interesses (legítimos) de instituições financeiras.
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