segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Simone Tebet* - A eterna vigilância

O Globo

Todos aqueles que participaram da infâmia de 8 de janeiro devem responder cabalmente por seus atos

Um ano atrás, no dia 8 de janeiro, todos nós, brasileiros e brasileiras que amamos a liberdade, a democracia e respeitamos a Constituição, conquistamos uma das maiores vitórias da civilização contra a barbárie desde o fim da ditadura militar e da redemocratização do país.

Aos que pensem que exagero nas palavras, quero lembrar apenas que acabamos de ser informados de que, entre os planos maquinados por alguns dos extremistas do golpe derrotado, estava o enforcamento de um ministro do Supremo Tribunal Federal em plena praça pública. Na verdade, na maior praça pública do Brasil, a Praça dos Três Poderes, que foi atacada e enxovalhada nos atos infames de 8 de janeiro de 2023.

Nós amamos a liberdade, a democracia e a Constituição porque aprendemos, ao longo das décadas, que, longe de ser palavras vazias, elas são os conceitos fundamentais que regem nossas vidas como cidadãs e cidadãos de uma sociedade moderna, que se pretende justa.

É a liberdade que permite que possamos dar sentido a nossas vidas, e não apenas gastá-las sob o jugo de tiranetes de ocasião.

É a democracia que garante que possamos exprimir livremente nossas opiniões e debater, em igualdade de condições, o futuro que queremos para nossas vidas, nosso país e nosso povo.

É a Constituição que garante a liberdade, a democracia e, portanto, os direitos de todos e de cada um de nós.

Em 8 de janeiro de 2023, conquistamos uma grande vitória, é verdade. Mas devemos sempre lembrar que, em termos históricos, não existem nem derrota nem vitória definitivas. Os inimigos da democracia foram derrotados, sim, mas não foram eliminados da nossa vida.

Existem algumas frases que vemos repetidas muitas vezes. Justamente por isso, deixamos de compreender a força e a profundidade de seu sentido. Só nos momentos históricos decisivos é que voltamos a compreendê-las. “O preço da liberdade é a eterna vigilância” é uma dessas frases que devemos resgatar do esquecimento e da banalidade.

Resgatá-la significa, claro, nos mantermos alertas às novas tentativas de ataque à democracia que possamos ter de enfrentar no futuro. Mas hoje, neste momento, significa, primordialmente, que todos aqueles que participaram, como ativistas, financiadores ou insufladores da infâmia de 8 de janeiro devem responder cabalmente por seus atos. A democracia exige que lhes seja garantido o devido processo legal, mas exige, igualmente, que recebam e cumpram as penas correspondentes à gravidade de seus crimes.

Não se trata de vingança, mas de justiça. Sem justiça, não haverá verdadeira pacificação do Brasil. E, sem esta, não haverá garantias verdadeiras para a manutenção da liberdade, da democracia e da Constituição.

Uma pessoa acometida de loucura representa, certamente, uma tragédia para si mesma e para sua família. Mas a história nos mostra que a loucura das nações origina males e tragédias universais. Nos últimos tempos, presenciamos muitas brasileiras e muitos brasileiros — nossas irmãs e irmãos — embarcando num surto de loucura política e institucional, motivados por um fluxo criminoso de propagação de mentiras e ódio. Não podemos permitir que isso se repita.

Um ano atrás, a barbárie deixou um rastro de destruição. Ato seguinte, a democracia atravessou, de braços dados, a Praça dos Três Poderes.

Vencemos a barbárie, sim. Não podemos permitir que ela retorne.

O preço da civilização é a eterna vigilância.

*Simone Tebet é ministra do Planejamento e Orçamento

 

Um comentário:

Anônimo disse...

É MUITO BOM
AFIRMAR A DEMOCRACIA !

■■■Para defender a democracia no Brasil e no mundo é preciso ficar preocupado com Bolsonaro, mas é preciso igualmente ficar preocupado com Lula e com o PT.

■É sempre muito bom afirmar a democracia, mas NÃO FAZ SENTIDO NENHUM em afirmar a democracia aqui no Brasil e, lá fora, TRAMAR CONTRA A DEMOCRACIA junto com os ditadores e seus regimes totalitários para articular uma Ordem Mundial Autoritária.

Afirmar a democracia não tem que ser só contra Bolsonaro.

■■■Afirmar a democracia é afirmar sempre, contra todos que a ameaçam e em todo lugar, contra Vladimir Putin, contra Xi Jiping, contra Nicolas Maduro, contra o regime de Cuba, contra o regime do Irã e contra qualquer vocação totalitária!

=》E quem escolhe alguns autoritários para condenar e escolhe outros para apoiar está enganando e é autoritário também.