segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Manuella Mirella* - Resistência democrática: reescrever o 8 de janeiro

Correio Braziliense

Um ano depois, temos a oportunidade de criar uma narrativa para a data impulsionada pelo contexto de união dos setores que marcou os últimos 365 dias, para repudiar e coibir novos ataques

O marco de um ano da tentativa de golpe caminha para adquirir novo significado em nossa história de luta pela democracia. Se em 8 de janeiro de 2023 o Brasil viveu o ápice dos ataques ao Estado Democrático de Direito de um período marcado por fissuras no nosso sistema, hoje, um ano depois, temos a oportunidade de criar uma narrativa para a data impulsionada pelo contexto de união dos setores que marcou os últimos 365 dias, para repudiar e coibir novos ataques. Além disso, é também um marco para reforçar nosso compromisso com a memória e a verdade.

Com manifestações em todo o país neste 8 de janeiro de 2024, o povo brasileiro nas ruas reescreverá um novo capítulo dessa história, como um reforço ao sentimento deste último ano — o de resistência democrática, ampliando a compreensão de que ela é muito mais que um sistema político, mas, sim, um caminho para uma sociedade mais justa.

O 8 de janeiro jamais deve ser esquecido sob o olhar da violência de um projeto obscuro de poder, mas também sob a fragmentação de uma democracia que sofreu fragilidades ao longo de sucessivos ataques na última década, agravados durante o governo Bolsonaro. Ao contar a história da UNE e seus 87 anos de trajetória, é impossível não relacionar a história da resistência democrática brasileira.

Esse acúmulo histórico e de experiência de articulação nos permite também vislumbrar — e atuar — que a união de esforços de setores e poderes é essencial para garantir a normalidade democrática e avançar no seus significado pleno: garantir direitos e oportunidades para todos, acesso à educação, saúde, moradia e trabalho digno, reduzindo desigualdades sociais, raciais e de gênero.

As cicatrizes da nossa democracia em ataque persistem. O 8 de janeiro é a demonstração de uma orquestração que a desinformação e projeto golpista geram a destruição. Mesmo com importantes iniciativas quanto à responsabilização dos ataques e à criação de mecanismos nos Poderes para debater e proteger a democracia, persistem a proliferação dos discursos de ódio, um sistema de alimentação de fake news e sucessivas tentativas de deslegitimar as instituições e criminalizar a atuação das organizações da sociedade civil.

Diante desse cenário, surge a necessidade de um sistema de vigilância permanente para garantir a segurança e a proteção do Estado Democrático de Direito, que perpassa também pela ampliação dos direitos sociais, sobretudo na educação, visando combater a desinformação e ressaltar a importância da democracia.

Precisaremos protagonizar uma intensa disputa na sociedade, melhorando as condições de vida do povo brasileiro e da participação popular nas decisões. Após grandes mobilizações, retomamos o diálogo com o governo para aprovar e colocar em curso importantes projetos para aprimorar a educação, com o objetivo de avançar em um projeto pela soberania nacional. A mobilização dos estudantes nas ruas trouxe vitórias, como a suspensão da implementação do novo ensino médio, o reajuste nas bolsas da Capes e do CNPq, a retomada de programas de combate à fome, o retorno do Bolsa Família, do programa Mais

Médicos, a ampliação do Minha Casa Minha Vida, a revogação do sistema de escolas cívico-militares e a retirada do Fundeb e dos investimentos em ciência e tecnologia do arcabouço fiscal, e a renovação da lei de cotas. Todas essas vitórias são fruto da luta e mobilização popular, visando reconectar o país a um projeto de desenvolvimento. Ainda buscamos ampliar os investimentos em educação, ciência e tecnologia, criando uma base forte e robusta para uma população que valoriza a democracia em seu amplo alcance e significado.

Assim como em outros marcos da história do Brasil, nos combate ao fascismo do passado, à resistência nos anos da ditadura militar, à defesa das Diretas Já até a mobilização intensa contra os ataques do governo Bolsonaro, a UNE se desafia a mobilizar os estudantes brasileiros para combater os discursos antidemocráticos, buscando a soberania e a reconstrução do Brasil. Que esse seja, então, o marco de um recomeço para a mobilização popular a partir de sua da sua mais recente experiência de resistência.

*Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e estudante de engenharia ambiental

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