O Estado de S. Paulo
Apesar de seu estilo desagradar a muitos, presidente americano é um fino estrategista. Sabe utilizar as armas que tem: a força militar e o poderio econômico
É Donald Trump “louco”? Bravateiro? A seguir boa parte da cobertura midiática e jornalística, o mundo estaria à beira da falência. Outros o qualificam como “colonialista”, “imperialista”. Todavia, tais apelações apenas expõem a perplexidade da esquerda e de autointitulados “especialistas”, que procuram tão só aferrar-se a suas ideologias. A questão consiste, porém, em que quando não se entende um fenômeno, a única alternativa reside na repetição de velhas fórmulas e ações infrutíferas. Se há loucura em Trump, é a que se faz com método.
Apesar de seu estilo desagradar a muitos,
Trump é um fino estrategista. Sabe utilizar as armas que tem à sua disposição:
a força militar e o poderio econômico. Não se atém nem a tratados
internacionais com nações amigas, como o tratado de livre comércio com o México
e o Canadá. Terminou a era em que o discurso democrata politicamente correto
simulava ditar as cartas, que eram simplesmente desrespeitadas. O diálogo,
agora, torna-se subsequente à ameaça, que pode tornarse realidade a qualquer
momento. Trump está introduzindo um novo mindset, um novo paradigma
geopolítico. E a partir dessas novas ideias, novas ações surgirão.
Em nosso continente, os resultados já se
fazem sentir. O governo esquerdista de Gustavo Petro tentou enfrentar Trump e
foi literalmente humilhado. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, ao
dar-se conta de que Trump não recuaria no aumento da tributação dos produtos
importados de seu país, comprometeu-se a controlar a imigração ilegal e o
narcotráfico. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, tentou fazer frente ao
presidente americano. Retrocedeu imediatamente na visita de Marco Rubio,
ministro de Relações Exteriores, inclusive saindo da Rota da Seda.
Assinale-se, ainda, duas atitudes que destoam
dessas reações iniciais: China e Brasil. A China respondeu moderadamente e,
pasme-se, recorreu à Organização Mundial do Comércio. Os comunistas recorreram
a uma agência internacional criada para regrar o livre comércio internacional
segundo uma lógica liberal! Lula da Silva foi igualmente comedido. Não teve
nenhum arroubo e orientou a diplomacia brasileira a evitar qualquer atrito.
Mudou o seu discurso anterior de enfrentamento com Trump. Igualmente emitiu uma
nota, muito bem elaborada, condenando o antissemitismo e relembrando os
horrores do Holocausto. Parece aí sinalizar para uma trégua com o Estado de
Israel, a depender de seus próximos passos.
Trump pensa fora das ideias recebidas. Sua
postura relativa ao Oriente Médio é uma prova disso. De nada adianta repetir as
mesmas fórmulas e os mesmos fracassos. Reconstruir Gaza! Como? Reerguendo a
estrutura do terror? Quando Ariel Sharon saiu de Gaza em 2005, coube aos
palestinos exercerem a sua autodeterminação. O que fizeram? Primeiro, entraram
em uma guerra civil entre o Hamas e o Fatah, com a vitória do primeiro,
lançando centenas dos membros do segundo de altos edifícios. Posteriormente, o
Hamas não se preocupou com o bem-estar material dos palestinos. Pior, veio a
utilizá-los como escudos humanos. A ajuda humanitária foi desviada para a
construção de túneis e a aquisição de armamentos. A Agência das Nações Unidas
de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla
em inglês) tornou-se um mero instrumento do terror. A destruição de Gaza é uma
das grandes conquistas do Hamas. E querem eles agora ditar os termos de um
acordo que lhes permita voltar à situação anterior?
A retórica de Trump não deixa de ser
desconcertante ao propor uma nova “Riviera do Oriente Médio”. Para além da
imagem, o problema colocado é importante. A reconstrução de Gaza não pode ser
feita sem um deslocamento populacional, salvo se essas pessoas ficarem expostas
a tendas e às intempéries durante um período de 10 a 15 anos. Claro que
qualquer deslocamento deve ser voluntário, com garantias a serem estabelecidas
entre as partes. Se essa ideia não for aceitável, que outros atores apresentem
soluções factíveis.
Clamar pela solução de dois Estados está
agora fora do horizonte após o massacre de 7 de outubro. Historicamente, os
árabes recusaram a partição da Palestina conforme a proposta da Comissão Peel
nos anos 1940, não aceitaram tampouco a partição da ONU em 1947, tendo como
único objetivo a destruição do Estado de Israel. Tentaram novamente eliminar o
Estado judeu nas guerras de 1967 e 1973. Yasser Arafat recusou a criação de um
Estado palestino, com pequenas correções territoriais, proposto pelo ex-presidente
Bill Clinton e e pelo exprimeiro-ministro israelense Ehud Barak. As guerras do
Hamas são apenas o epílogo desse longo processo destrutivo.
Trump busca novas soluções. Se ganhar 50% do
que está propondo, já é uma grande vitória. Talvez tenha em vista a proposta do
ex-embaixador americano em Israel, David Friedman, visando a criar uma entidade
palestina juridicamente semelhante à associação de Porto Rico aos EUA. Gozo
pleno da cidadania, Estado de bem-estar social, liberdade de trabalho e estudo,
sem, no entanto, ter independência em questões de defesa, de relações
exteriores e tributárias. O objetivo é uma vida digna. •
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