sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

As más notícias de 2025 para 2026. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Poderes em conflito e parlamentar fugindo da polícia e salivando por emendas são problema

Preço da vitória de Lula 4 parece mais alto; corte de juros do BC pode ficar mais tumultuado

A primavera começou com promessa de melhoria no tempo ruim da política brasileira. As manifestações contra a anistia dos golpistas ajudaram a derrubar a PEC da Blindagem, por exemplo. Mas o ambiente continuaria poluído, sabíamos então; piorou. O mormaço tóxico vai entrar pelo ano eleitoral de 2026. Venenos:

1) A parlamentagem tentando fugir da polícia e da Justiça, querendo peitar um STF de fato fora da casinha institucional, refratário até à ideia de seguir um código de conduta, vergonha na cara básica;

2) A falta de pagamento de emendas parece assunto tão velho que mal se fala dele. Mas é o que move o clero ainda mais baixo (pois é quase tudo baixo no Congresso). É fácil arregimentar votos contra o governo quando a massa parlamentar saliva de raiva e fome de dinheiro;

3) Era sabido que derrota da direita tenderia a mexer com preços da finança (dólar, juros), ainda mais dada a indiferença de Lula 3 em relação ao conserto das contas públicas. Com o anúncio da candidatura-bomba e por ora derrotada de Flávio Bolsonaro tivemos uma medida desse custo, precocemente alto;

4) Aumentou o risco de um 2026 politicamente mais tumultuado. Além dos conflitos abertos entre Poderes, vê-se que a finança está bem mais avessa à Lula 4 do que se imaginava. E daí? Não deve ser tranquila a campanha de redução da taxa básica de juros, da Selic.

O Banco Central tinha problemas de política monetária para resolver, não importa o gosto econômico do freguês. Agora, pode ter de lidar com problemas monetários derivados de tumulto político. PODE, ressalte-se, não é destino. Mas há cheiro de queimado no ar, como diz o Elio Gaspari. Para fazer um resumo grosso, uma alta do dólar e o calendário eleitoral podem encrencar até a redução da Selic para ainda horríveis 12,25% no final do ano que vem. O BC vai correr com cortes de juros antes que sobrevenha uma reação do mercado a um Lula 4 sem programa fiscal digno de crédito? Ou a economia viria a desacelerar tanto que seria possível dar talhos enormes na Selic desde o início do ano? Hum.

O mais recente conflito entre Supremo e Congresso é ainda resultado da tentativa da maioria parlamentar de evitar processos, cassações e prisões. Além de medos mais antigos, a parlamentagem teme investigações de escândalos bancários, de empresas criminosas de combustíveis e de rolos com emendas. Direita e extrema direita querem a cabeça de ministros do STF, mas têm apoio mudo do Congresso quase inteiro. Direita e extrema direita, como se sabe, querem dominar o Senado de 2027 de modo a controlar o STF ou mesmo cortar cabeças.

Gilmar Mendes e a cúpula do Senado chegaram a um acordo de limitação da corrida armamentista (blindagem do STF versus impeachment facilitado no Senado). Mas é só isso. A luta continua. E se a Polícia Federal pegar mais gente na parlamentagem? E se forem condenados os primeiros parlamentares por roubança de emendas, no início do ano que vem, nos processos de Flávio Dino?

Foi difícil pagar até o mínimo de emenda parlamentar neste ano. A pindaíba do governo federal será algo maior no ano que vem. Como vai ser? Vai ter pauta-bomba no Congresso? Vai ter emenda para parlamentar amigo ou que abandone a candidatura-bomba ou estalinho do partido golpista, de Flávio Bolsonaro?

Não vai ter chuva de verão para limpar o ar empesteado até pelo menos o Carnaval.

 

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