DEU EM GRAMSCI E O BRASIL
Sergio Augusto de Moraes. Viver e morrer no Chile. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Astrojildo Pereira & Contraponto, 2010.
Este livro é o testemunho de um exilado brasileiro, que nos revela alguns dos aspectos mais dramáticos daquele momento da história chilena, logo após a derrubada de Allende, quando a repressão se desencadeou sobre aqueles que, de uma maneira ou de outra, o apoiavam.
Chegado a Santiago dois anos antes do golpe militar, que daria fim ao governo socialista eleito em 1970, Sergio Moraes nos conta, sucintamente, sua experiência individual que, por envolver outros exilados e ter se vinculado à própria defesa daquele governo, vai além do relato autobiográfico para se tornar parte daquele momento da história chilena. E parte também de nossa história, já que se trata de um comunista brasileiro que, ameaçado pela ditadura militar, teve que optar pelo exílio. O Chile, por ter então um governo socialista, tornara-se o destino natural de militantes brasileiros que buscavam escapar da repressão em nosso país.
Sergio Moraes, engenheiro de profissão, ao chegar a Santiago, conseguiu emprego na empresa estatal Codelco sendo depois transferido para a Madeco, produtora industrial de artefatos de cobre. Ali, relaciona-se com partidários de Allende, dispostos a defender o governo socialista, já então ameaçado pela direita e por setores das forças armadas chilenas. Foi quando surgiu a ideia de construir pequenos carros blindados, que eventualmente pudessem ser usados contra os golpistas. Mas o golpe veio e não houve resistência e, dias depois, Sergio e sua companheira, Zelda, eram presos e enviados para o Estádio Nacional, onde já se encontravam outros militantes chilenos ou não, partidários do presidente deposto.
No Estádio Nacional, de onde frequentemente um helicóptero militar levava prisioneiros para a morte, Sergio viveu a insuportável expectativa de ser também executado. Esse drama terrível é por ele narrado neste livro de maneira sóbria e objetiva, que mais lhe acentua a dramaticidade. Esta narrativa constitui um testemunho impactante daqueles dias aterradores; testemunho que é, por isso mesmo, uma denúncia da ferocidade daquele regime que dominou a nação chilena por quase vinte anos. Um livro que necessitava ser escrito e, felizmente, o foi. Lê-lo é imprescindível.
Ferreira Gullar é poeta. Este texto é o prefácio de Morrer e viver no Chile.
Sergio Augusto de Moraes. Viver e morrer no Chile. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Astrojildo Pereira & Contraponto, 2010.
Este livro é o testemunho de um exilado brasileiro, que nos revela alguns dos aspectos mais dramáticos daquele momento da história chilena, logo após a derrubada de Allende, quando a repressão se desencadeou sobre aqueles que, de uma maneira ou de outra, o apoiavam.
Chegado a Santiago dois anos antes do golpe militar, que daria fim ao governo socialista eleito em 1970, Sergio Moraes nos conta, sucintamente, sua experiência individual que, por envolver outros exilados e ter se vinculado à própria defesa daquele governo, vai além do relato autobiográfico para se tornar parte daquele momento da história chilena. E parte também de nossa história, já que se trata de um comunista brasileiro que, ameaçado pela ditadura militar, teve que optar pelo exílio. O Chile, por ter então um governo socialista, tornara-se o destino natural de militantes brasileiros que buscavam escapar da repressão em nosso país.
Sergio Moraes, engenheiro de profissão, ao chegar a Santiago, conseguiu emprego na empresa estatal Codelco sendo depois transferido para a Madeco, produtora industrial de artefatos de cobre. Ali, relaciona-se com partidários de Allende, dispostos a defender o governo socialista, já então ameaçado pela direita e por setores das forças armadas chilenas. Foi quando surgiu a ideia de construir pequenos carros blindados, que eventualmente pudessem ser usados contra os golpistas. Mas o golpe veio e não houve resistência e, dias depois, Sergio e sua companheira, Zelda, eram presos e enviados para o Estádio Nacional, onde já se encontravam outros militantes chilenos ou não, partidários do presidente deposto.
No Estádio Nacional, de onde frequentemente um helicóptero militar levava prisioneiros para a morte, Sergio viveu a insuportável expectativa de ser também executado. Esse drama terrível é por ele narrado neste livro de maneira sóbria e objetiva, que mais lhe acentua a dramaticidade. Esta narrativa constitui um testemunho impactante daqueles dias aterradores; testemunho que é, por isso mesmo, uma denúncia da ferocidade daquele regime que dominou a nação chilena por quase vinte anos. Um livro que necessitava ser escrito e, felizmente, o foi. Lê-lo é imprescindível.
Ferreira Gullar é poeta. Este texto é o prefácio de Morrer e viver no Chile.
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