Prestes a ingressar nas redes sociais, o ex-presidente divulga depoimento inédito em que faz uma autocrítica dos anos no poder
Juliana Braga
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso volta aos holofotes, poucos meses após a celebração de seus 80 anos, em duas frentes. Ele anuncia a edição de um livro em que, em vez de teorias sociológicas ou discursos de seu período com a faixa presidencial, exibe reflexões bastante pessoais. Ele se prepara ainda para entrar no mundo das redes sociais, tarefa comandada por Xico Graziano, responsável pelo programa de governo da campanha de José Serra à Presidência em 2010.
O livro intitulado A Soma e o Resto: Um olhar sobre a vida aos 80 anos reúne artigos publicados pelo ex-presidente e a transcrição de mais de 10 horas de depoimentos concedidos a Miguel Darcy, assessor internacional de FHC no instituto que leva seu nome desde 2003. A ideia inicial era passar a limpo as reflexões esporádicas do ex-presidente com relação às mudanças sofridas pelo Brasil em sua história recente. "Mas, à medida que íamos trabalhando, foram surgindo memórias sobre suas influências, sua família, temas sobre os quais ele fala muito pouco", descreve Miguel. O próprio Fernando Henrique admite essa mudança de postura, na apresentação do livro. Diz que, a essa altura da vida, tem o direito "de ter a ousadia" de se "mostrar sem muita maquiagem", e que os depoimentos foram feitos em "tom de desabafo".
Nessas confissões, o ex-presidente critica a postura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e até sua atuação à frente do Palácio do Planalto. Segundo ele, o partido dos Trabalhadores mudou ao longo dos anos, e acabou se esquecendo de que nasceu do povo. "O PT acredita que o partido toma conta do Estado e que o Estado muda a sociedade. No passado, o PT não acreditava nisso. Ele nasceu da sociedade, mas se esqueceu disso", aponta.
FHC lamenta que seu governo tenha sido classificado como "herança maldita" por Lula e agradece à presidente Dilma Rousseff a mudança no tratamento, quando completou 80 anos. "O poder presidencial é tão grande que, quando a Dilma me mandou uma carta de felicitações, e nos termos em que a escreveu, esse gesto abriu as comportas para que outros, inclusive vários ministros, se sentissem mais à vontade para dizer o que eles acham, libertando-se da ideia maligna da herança maldita", avalia.
Sobre seu governo, o ex-presidente se arrepende da forma como conduziu a reforma da previdência. "Acho que forcei demais (...) e isso me custou muito caro. Não precisava ousar tanto. Assustamos muita gente, quando o que queríamos era mudar o sistema previdenciário", analisa. O volume será lançado pela Editora Civilização Brasileira na próxima semana, em duas ocasiões: dia 7, no Rio de Janeiro, e dia 9, em São Paulo.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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