O editorial da Folha de S. Paulo, de ontem – “Paraguai soberano” – resume na abertura o essencial sobre o afasta-mento de Fernando Lugo da presidência do país vizinho: “A Corte Suprema de Justiça do Paraguai recusou a alegação do ex-presidente de que foi inconstitucional o fulminante processo de impeachment pelo qual o Congresso o depôs entre quinta e sexta-feira passada. Com a decisão, caem por terra as pretensões de invalidar a posse do vice Frederico Franco como sucessor constitucional. Também ontem a Justiça Eleitoral rejeitou a possibilidade de antecipar as eleições presidenciais, previstas para abril de 2013”. O texto termina com uma recomendação ao governo brasileiro: “Com um triste histórico de ingerência na política interna do Paraguai..., o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho”.
Por seu turno, o editorial do Globo chamou a atenção pa-ra a necessidade de que o Brasil se diferencie da postura “bolivariana” sobre o problema institucional paraguaio: “Os casos de Honduras e, agora, do Paraguai pelo menos justificam que as mesmas zelosas instituições, e o Itamaraty em particular, também não deixem passar sem análise manipulações que Venezuela, Equador e Bolívia – para citar os mais notórios – fazem do Congresso e do Poder Judiciário, a fim de destroçar o que resta de democracia em seus regimes, por meio de instrumentos apenas formalmente democráticos”.
Quanto à presidente Dilma Rousseff, às reações iniciais diante do problema, próximas das da neochavista Cristina Kirchner, da Argentina, foi-se seguindo um redirecionamento cauteloso forçado pelo respaldo da Corte Suprema e do Tribunal Eleitoral à decisão das duas casas do Congresso do Paraguai, pela forma tranquila com que a população a acolheu e pelo amplo apoio que recebeu dos “brasiguaios”, a comunidade local dos brasileiros. Esse redirecionamento pode ter arrefecido a mudança de atitude de Fernando Lugo – inspirada pelo governo da Argentina – do acatamento da decisão do Legislativo para a tentativa de contestação dela.
A manipulação dos preços da Petrobras
A depreciação de quase 9% das ações da Petrobras anteontem na Bovespa, bem como as causas e os desdobra-mentos das sérias dificuldades vividas pela estatal, foram os temas predominantes no noticiário econômico de ontem. Seguem-se manchetes dos principais jornais. Do Valor – “Graça faz diagnóstico severo da Petrobras”. Do Globo – “Tombo de R$ 22 bi (Reajuste da gasolina frustra investido-res e ações despencam 8,95%)”. Da Folha – “Petrobras re-vê 2 refinarias anunciadas por Lula no NE”. Do Estadão – “Ações caem 9% e presidente da Petrobras diz que vai insis-tir em novos reajustes da gasolina”.
Qual é a política?” Trechos da coluna de Celso Ming, no Estadão, com o título acima: “Precisou que a hemorragia nas finanças da Petrobras atingisse níveis críticos para que, afinal, o governo Dilma concordasse com o reajuste dos preços dos combustíveis. Ainda assim, chegou tarde e foi insuficiente”. “Nada impede que, depois das eleições, venha outro reajuste. Só que dessa vez não haverá como amortizar o impacto sobre o orçamento do consumidor, pois o governo zerou a Cide”. “Agora, nem o equilíbrio de caixa da Petrobras foi recuperado nem as distorções dessa política foram removidas. Os preços favorecidos da gasolina e do óleo diesel seguirão aumentando artificialmente o consumo e exigirão volumes cada vez maiores de importações de gasolina”.
“Esse achatamento de preços e a falta de definição de uma política clara de combustíveis também sufocam a produção de biocombustíveis, especialmente de etanol e biodiesel...”.
E o dinheiro de Chávez para a refinaria de Pernambuco? Entre os empreendimentos da Petrobras que, atrasados, passam a ter novos cronogramas no plano de negócios anunciado anteontem, inclui-se o da refinaria Abreu e Lima, a ser implantada perto do Recife e que teria financiamento conjunto do Brasil e da Venezuela, conforme acordo entre os presidentes Lula e Hugo Chávez. O principal motivo da protelação deste – de três anos, para o final de 2014 – é a falta da parceria financeira da Venezuela, acertada em 40%, mas até agora não efetivada porque o governo “bolivariano” não ofereceu ao BNDES as garantias básicas para a concessão do empréstimo correspondente. Ao atraso se somará um aumento de nove vezes o custo da obra (para US$ 20,1 bilhões em vez dos US$ 2,3 bilhões do plano original). Três outros empreendimentos da Petrobras muito badalados nas campanhas para a reeleição de Lula e para a vitória da sucessora, e que também sofreram retardamento em face da redução de investimentos da estatal no período 2012/2016, são os das refinarias no Maranhão e no Ceará e do Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
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