Na Ilha de Deus, socialista se apresenta como coautor das ações do governo. Ainda desconhecido, foi pouco assediado
Sheila Borges
No primeiro dia de campanha política, o candidato a prefeito do Recife do PSB, Geraldo Julio, realizou visitas a duas comunidades que vivem realidades diferentes: a do Bode, no Pina, e a da Ilha de Deus, na Imbiribeira. Nelas, terminou exibindo, de uma só vez, os pontos fortes e fracos da candidatura, que são, respectivamente, o perfil de gestor experiente e a imagem de político desconhecido.
Quando percorreu as ruas da Ilha de Deus, mostrou o lado do gestor que sabe tirar os projetos do papel. Como secretário de Planejamento, no primeiro governo Eduardo (2007/2010), coordenou a reurbanização daquele local onde o Estado construiu uma nova ponte de acesso e pretende, até o final do ano, entregar 306 unidades habitacionais. Essa obra serviu de contraponto para criticar a Prefeitura do Recife por ter “esquecido” as quase duas mil famílias que vivem em palafitas no Bode.
Sem dizer uma só palavra contra o atual prefeito João da Costa (PT), já que o PSB faz parte da administração com o vice-prefeito Milton Coelho, Geraldo afirmou que, se eleito, trabalhará para mudar a cara do local, que remonta os problemas enfrentados pelos moradores da Ilha de Deus antes da intervenção do Estado. Dessa forma, atacou uma das bandeiras dos petistas: a de reduzir o número de palafitas no Recife. Basta lembrar a emblemática visita que o ex-presidente Lula fez, no início de 2003, a Brasília Teimosa antes do PT retirar as famílias das palafitas.
Com essa estratégia, Geraldo terminou colocando o próprio candidato a vice-prefeito, Luciano Siqueira (PCdoB), em situação delicada e revelando uma fragilidade de sua campanha: contar com um vice que ocupou o mesmo cargo nas gestões do ex-prefeito João Paulo (2001/2004 e 2005/2008), atual candidato a vice na chapa encabeçada pelo senador Humberto Costa, candidato à prefeitura pelo PT. Isso porque os moradores das palafitas do Bode reclamaram do atual prefeito e estenderam a queixa a João Paulo. “Nem João da Costa nem João Paulo fizeram nada. O vice aqui não vai deixar a gente mentir”, falou o líder comunitário Fernando Branquinho, apontando para Luciano Siqueira. Ao lado de Geraldo, Luciano admitiu que não lembrava das ações realizadas na área, mas ponderou, falando que “alguma coisa foi feita”.
Apesar de querer ressaltar a sua experiência de gestor, foi inevitável enfrentar uma outra realidade: é um candidato desconhecido até mesmo na Ilha de Deus, onde o governo estadual realizou intervenções. “Aqui é o nosso futuro prefeito. Fez toda essa obra, ajudou a gente. É o nosso padrinho”, falava Josenilda da Silva, Nalvinha, líder comunitária. Mesmo assim, muitos não conseguiam entender a situação, até porque não tinha nenhuma peça de propaganda sendo exibida ou distribuída. “É esse aí de branco? É artista da Globo”, indagou a dona de casa Letícia Pereira, apontando para Geraldo. “É o candidato de Eduardo, é?”, indagou outra moradora. “É”, respondeu Nalvinha.
A reação das pessoas não incomodou Geraldo. Na Ilha de Deus, aproveitou uma partida de futebol e aceitou o desafio da meninada. Deu dois chutes a gol: acertou um. “É assim que vou fazer, visitar os lugares, falar com as pessoas e identificar os problemas para ver a solução. Não vou brigar.” Quem mostrou disposição para enfrentar a campanha foi a mulher de Geraldo, Cristina. Revelou que tem experiência em campanha. Quando adolescente, ajudava o pai, José Quirino, que foi prefeito de Limoeiro, no Agreste.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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