A eleição paulistana de 2012 tem revelado mais surpresas que de costume. A
consolidação de Celso Russomanno na dianteira das pesquisas é uma delas. Mas,
tanto a rejeição de José Serra quanto a paralisação de Fernando Haddad em
índices bem inferiores à tradição petista, são, de algum modo, surpreendentes.
Há, evidentemente, explicação para cada um dos casos.
Imaginava-se que o esgotamento da polaridade PT-PSDB favoreceria o
aparecimento de alternativas; um tertius. Muitos apostavam na viabilidade de Gabriel
Chalita. E o "Chalita" que veio à luz se chama Russomanno. Conhecido
da mídia e de várias eleições, o candidato do PRB favoreceu-se do recall;
largou bem. Suportado pela máquina da Universal, consolidou a liderança ajudado
também por uma experiente presença de vídeo.
Não foi só isso. Há disseminada percepção de que a cidade piorou: as ruas
não funcionam e a burocracia municipal não dá conta da cidade que resultou do
crescimento econômico. Sem ter a quem se queixar, cidadãos reduzidos a
consumidores enxergam em Celso Russomanno um providencial personal Procon.
Aquém da cidadania, mas uma forma de protesto.
Havia espaço destinado a uma candidatura como a sua. Por aqui, sempre
vicejou um conservadorismo demandante de personalismo; um ator acima das instituições.
Foi o "malufismo" que não se encerra no decadente Paulo Maluf. Um
estado de espírito, uma força social, que já atendeu por adhemarismo, janismo e
quercismo. A essa tradição, nos "tempos modernos", o estilo
Russomanno parece se moldar melhor que os tucanos.
Por algum tempo, José Serra e Geraldo Alckmin preencheram esse espaço. Mas,
genéricos, não possuem o princípio ativo. A apropriação que buscaram fazer do
discurso conservador gera desconfiança em uns, decepção em outros. O
"Serra neocon", de 2010, talvez tenha passado do ponto ao não
conquistar a direita e afugentar os progressistas. Ao invés de ganha-ganha, um
perde-perde. Seus números atuais - apoio e rejeição - indicam essa perda.
Além disso, carregar Kassab implica custos elevados. A administração não foi
realizadora; qual sua marca? A cidade se verticalizou, cresceu para o alto de
forma abrupta e suspeita; as ruas travaram. Políticas públicas não emplacaram.
O prefeito, ativo na política, apequenou-se na gestão.
No mais, a fadiga do material, de que falou FHC: o natural desgaste de quem
ocupa a cena desde 1994 - eleição para o Senado. Esta é a sétima campanha
majoritária de Serra; venceu três, perdeu três. Em 2008, foi protagonista sem
ser candidato. Para tamanha exposição, seria necessário reinventar-se. Mas
insistiu no mesmo tom de 2010. Na TV, tem mudado, mas será o suficiente?
Por fim, hora da verdade de Fernando Haddad. O candidato patina a léguas do
potencial do PT. Numa perspectiva positiva, haveria, ainda, a desatenção do
eleitor: parte das intenções de votos em Russomanno migraria em sua direção.
Mas, o certo é que padrinhos, tempo de TV e um programa bem feito não bastam. É
necessário não errar.
A nomeação extemporânea de Marta Suplicy para o ministério foi gol contra;
queimou o filme de Dilma. A preservação de Russomanno, com vistas ao segundo
turno, impede a rápida retomada do eleitorado petista. Os golpes desferidos por
Serra deixam marcas e não encontram resposta. O candidato, sem experiência, não
tem conquistado empatia popular.
Ao que parece, o PT se preparou para enfrentar o tucano, mas a presença do
tertius o surpreendeu. A militância não é a mesma e a exposição do mensalão
pode não ser fundamental, mas cobra preço em ânimo e imagem. Recolhe o
candidato à defensiva.
De olho no futuro, a eleição segue indefinida, volátil; aberta a surpresas e
fatos novos. Seu resultado reordenará parte do sistema, organizará times e
jogadores para novas disputas. De algum modo, 2014 já começou.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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