O relator do mensalão, Joaquim Barbosa, afirmou no STF que reuniões entre o ex-ministro José Dirceu e a dona do Banco Rural, Kátia Rabello, ocorreram no "contexto" de lavagem de dinheiro.
Ambos negam. Barbosa descreveu um esquema de ocultação de saques de dinheiro ilícito e condenou nove réus (cinco do núcleo publicitário e quatro do banco) por lavagem.
Barbosa destaca elo de Dirceu com esquema
Ministro relator afirma que Marcos Valério era o intermediário dos interesses do Banco Rural junto ao ministro
Segundo Barbosa, encontros entre a dona do banco e Dirceu se deram "no contexto" das operações de lavagem
Felipe Seligman, Flávio Ferreira, Márcio Falcão, Nádia Guerlenda e Rubens Valente
BRASÍLIA - O relator do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, votou ontem pela condenação de nove réus por lavagem de dinheiro e complicou a situação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP).
Em seu voto, que apontou um esquema de ocultação de saques do dinheiro usado no pagamento a parlamentares e partidos políticos, Barbosa colocou em dúvida o objetivo de duas reuniões entre Dirceu e a dona do Banco Rural.
"Embora Kátia Rabello e José Dirceu não admitam ter tratado do esquema de lavagem de dinheiro, é imprescindível atentar para o contexto em que tais reuniões se deram. Não se trata de um fato isolado, [...] mas num mesmo contexto em que as operações foram levadas a efeito."
Barbosa disse ainda que o empresário Marcos Valério de Souza funcionou como "intermediário" de interesses de Kátia junto a Dirceu, conforme depoimento da própria ré.
A parte da acusação que trata do ex-ministro, contudo, será analisada mais adiante.
O relator fez várias referências a outro integrante do chamado núcleo político, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Disse que a lavagem foi "ação orquestrada" com a "ocultação dos reais recebedores", "indicados pelos integrantes do núcleo publicitário, orientados pelos membros do núcleo político, que tinha Delúbio como interlocutor".
Ontem, o relator votou pela condenação de Valério, seus sócios, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, seu advogado, Rogério Tolentino, as funcionárias Simone Reis e Geiza Dias, e dos executivos do Rural Kátia Rabello, o ex-vice-presidente José Roberto Salgado e o dirigente Vinícius Samarane - Ele votou pela absolvição da ex-executiva Ayanna Tenório.
Segundo Barbosa, foram 46 operações de lavagem de dinheiro no mensalão, que passou por três etapas distintas.
Primeiro, com fraude nos registros contábeis das empresas de Valério. Depois, a simulação de R$ 29 milhões em empréstimos junto ao Banco Rural. As dívidas eram roladas indefinidamente, sem pagamento e sem boas garantias.
Por fim, havia o saque na boca do caixa de uma maneira que enganava o Banco Central e o Coaf, órgão de inteligência financeira do governo federal.
Pela legislação então em vigor, os bancos deveriam comunicar a ambos os saques de R$ 100 mil ou mais. Os saques do mensalão, contudo, foram informados sem o registro nominal do verdadeiro sacador.
Isso porque a SMPB, uma das empresas de Valério, emitia cheques de conta no Rural para si mesma, como se fosse para pagar fornecedores, e autorizava o banco a deixar outras pessoas sem ligação com a empresa sacarem o dinheiro.
Barbosa disse que deve reconhecer que houve corrupção ao julgar a acusação de compra de apoio de congressistas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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