terça-feira, 11 de setembro de 2012

Perdas e ganhos do industrialismo - Vinicius Torres Freire

Dilma transfere recursos para a indústria a fim de incentivar produção, mas balanço sai só na Copa

Dilma rousseff transfere dinheiro em massa para a indústria. O governo acredita que assim incentiva a produção e o investimento, protege empresas de competição externa predatória, preserva empregos e, de quebra, segura a inflação.

Algum aumento de produção haverá, se outros fatores não atrapalharem. O impacto no emprego, secundário, é mais difícil de estimar.

No caso da inflação, o teste do pudim será comê-lo. Mesmo economistas de banco, que torcem o nariz para a heterodoxia dilmiana, divergem sobre o efeito das intervenções industrialistas da presidente sobre os preços. Quem paga a conta dessa transferência de recursos para a indústria?

A providência mais recente e mais bem-vinda é a grande redução do preço da eletricidade para empresas e também consumidores domésticos, a ser explicada hoje.

Nesse caso, o governo paga a redução de impostos. Usinas antigas ("amortizadas", com custos menores) podem ser obrigadas a reduzir preço. Parte dessa redução deve chegar ao preço dos produtos.

O governo aumentou o imposto sobre uma centena de produtos. Reserva mercado para firmas nacionais. Assim, o preço de tais produtos ganha um piso temporário: não cai ou até sobe.

Medidas desse tipo tiram dinheiro de consumidores domésticos e o transfere para firmas nacionais. De outro modo, nem teriam sentido.

O governo desvaloriza o real, o que também encarece os importados e, por tabela, o produto nacional. Ponto para a inflação.

Tem havido ainda seguidas reduções de impostos sobre produtos industriais e folha de pagamento.

As reduções temporárias de impostos contiveram parte da inflação deste ano. O efeito das reduções permanentes é incerto. Como as margens de lucro das empresas pioraram bem, elas devem estar embolsando o desconto no imposto.

Empréstimos do BNDES ficaram ainda mais baratos. Algumas taxas de juros agora são negativas (menores que a inflação). Isso deve durar apenas até janeiro. Mas, mesmo assim, muito empréstimo do BNDES cobra juros de "Primeiro Mundo".

Dúvida: quanto investimento as empresas fariam de qualquer maneira, com ou sem empréstimo a juro de pai para filho?

O governo faz dívida cara para repassar dinheiro ao BNDES, que o empresta a custo baixo. A diferença, o subsídio, é paga por impostos.

Há outros benefícios indiretos, como os programas de compra oficiais e de estatais, que privilegiam firmas nacionais mesmo que cobrem mais caro. Despesas do governo e preços sobem, pagos por contribuintes e consumidores.

A vida não é simples como um manual de economia. Há efeitos positivos difusos e indiretos dessa pacoteira sobre o investimento, emprego e, pois, renda.

Muitas dessas medidas procuram justamente elevar a renda das empresas: imposto de importação, câmbio. Outras reduzem custos para as firmas, que podem apenas embolsá-los. Preços maiores e custos menores incentivam a produção.

Em parte, o governo achata a sua receita de impostos (o que pretende compensar com a queda da taxa básica de juros). O balanço geral das contas é difícil de fazer, agora. Mas vai ficar evidente nas medidas de inflação, lucros e produção daqui a 2014.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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