Entre os partidos da base aliada do governo está se formando um consenso: começaram a produzir efeitos eleitorais consistentes as vesperais do Supremo com a exibição permanente e crua do mensalão - o sistema de compra de apoio político no Congresso, no primeiro mandato de Lula (2003-2007). É pessimista a avaliação dos partidos sobre a extensão dos danos ao PT.
Alguns desses efeitos são explícitos, como a estreia do mensalão no horário eleitoral gratuito do PSDB de São Paulo. Outros, implícitos, como a percepção da base de sustentação do governo de que o PT está hoje mais fragilizado do que no início da campanha.
O mensalão entrou em cena, em grande estilo, no 7 de Setembro em que o tucano José Serra decidiu levar o assunto para seu programa de televisão.
Julgamento do STF causa apreensão nos aliados do governo
"Não adianta dizer que faz o bem agindo mal", disse Serra sem precisar nem sequer mencionar os nomes de seus adversários. Não era necessário. "Falo isso porque São Paulo e o Brasil estão vendo o STF julgar o mensalão, mandando para a cadeia um jeito nefasto, maléfico, de fazer política".
Uma inserção de 15 segundos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também foi contundente. "A Justiça está despertando o Brasil. Já condenou réus do mensalão e não poupou os poderosos. São Paulo não aceita quem é tolerante com desvios de dinheiro público. Vai votar em um administrador honesto, com história limpa, José Serra".
O efeito mais devastador do julgamento do mensalão para o PT, porém, é a condenação da maioria dos acusados que até agora passaram pelo crivo do Supremo Tribunal Federal (STF), uma tendência aparentemente irreversível.
Logo, os problemas para o PT devem aumentar quando seus principais dirigentes à época do escândalo caminharem sobre a prancha do STF. Três dias por semana. Nomes como o de José Genoino, que presidia o partido à época do escândalo, e do ex-ministro José Dirceu, que se transformou na verdadeira encarnação do esquema.
Da maneira que está sendo construído o enredo do Supremo, Dirceu chegará ao final do julgamento como foi marcado pelo Ministério Público Federal, o "chefe da quadrilha", embora provavelmente nunca tenha visitado a agência do banco Rural em Brasília, onde eram efetuados os saques.
Até a última semana, o mensalão esteve mais ou menos à margem do horário eleitoral gratuito. Era de se esperar. Os adversários do PT espreitavam a tendência do Supremo. É claro que o Partido dos Trabalhadores estaria agora comemorando, na propaganda de seus candidatos, se os prognósticos e os primeiros votos dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) apontassem para outra direção.
Tudo isso ocorre num momento em que a aprovação da presidente da República, Dilma Rousseff, caiu alguns pontos (poucos, é certo), e a sucessão presidencial deve entrar na agenda política logo depois de ser contado o último voto para prefeito. Acaba a eleição, começa a sucessão. O governo entra em contagem regressiva. Essa é a tradição política. A ampulheta fica de ponta cabeça.
É evidente que os efeitos eleitorais do mensalão devem ser mais fortes em São Paulo, Estado de seus principais protagonistas. Se a estratégia do PSDB, certamente baseada em pesquisas de opinião, dará certo é uma questão a ser conferida nas próximas sondagens, até o dia da eleição. Luiz Gonzalez, o marqueteiro de Serra, gosta de olhar para um lado e jogar a bola para o outro. Mas seria ingenuidade acreditar que o PT também não dispõe de uma bateria de alternativas para usar contra os tucanos.
Mas essa é uma questão específica da eleição paulistana. O importante é o registro de que os aliados do PT sumiram. Cada um foi cuidar da própria vida, não existe um sentimento de "base unida" ou de que o governo vai ganhar. Ao contrário, há movimentos como os do governador Eduardo Campos, presidente do PSB, em conflito aberto com o PT. Pouco ou quase nada se ouve falar do PMDB e de solidariedade ao governo no momento em que o PT está sob fogo cerrado.
O mensalão não tem sócios. Por força das circunstâncias, Dilma foi levada a se reinserir no PT no momento em que FHC falou da "herança pesada" de Lula - o mensalão. A presidente defendeu o antecessor, disse que recebera uma "herança bendita", mas não falou da na Ação Penal 470.
Terminados o julgamento e a eleição, é provável que a chamada base de sustentação do governo saia das urnas ainda mais esgarçada do que entrou. O futuro (2014) dependerá da capacidade política da presidente para recompor (ou compor) uma base partidária forte para sustentar sua candidatura à reeleição.
O Palácio do Planalto tirou lições da Olimpíada de Londres. Na visão do governo há muitas críticas em relação às obras de infraestrutura para a Copa do Mundo, mas pouca atenção a outros ganhos que um evento desse porte permitirá ao país. Um deles é a renovação da imagem de um Brasil que não é capaz de dar conta de fazer o que propõe. Esse seria um ganho mais importante, talvez, do que a própria realização das obras, que de um modo ou de outro seriam mesmo realizadas.
A Copa do Mundo também traz o cronograma da Olimpíada do Rio de Janeiro para mais próximo. O programa para a formação de mão de obra para o ramo da hotelaria, por exemplo: a previsão inicial era da abertura de cerca de 40 mil vagas, para 28 cursos diversos, inclusive de línguas. A demanda de interessados chegou a cerca de 300 mil interessados.
Aproveitando-se do charme que tem o Rio de Janeiro, o governo também pensa em atrair profissionais de eventos para as outras capitais que servirão de sede para a Copa do Mundo de 2014. Aliás, o torneio de futebol da Olimpíada do Rio será disputado em algumas dessas cidades. Somente o jogo final será no Rio.
Além disso, o governo avalia que a demanda jornalística em relação às cidades-sede da Copa do Mundo "equivale a mil campanhas de publicidade".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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