Fernando Haddad e José Serra recorrem aos ex-presidentes e caciques do PT e do PSDB na tentativa de chegar ao segundo turno da corrida pela prefeitura de São Paulo
Gabriel Mascarenhas
Na semana em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrou na campanha do correligionário José Serra (PSDB) em São Paulo, o candidato do PT, Fernando Haddad, subirá ao palanque pela primeira vez, hoje, com o principal cabo eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A corrida pela vaga no segundo turno, provavelmente ao lado de Celso Russomanno (PRB), que se consolidou na liderança das pesquisas, deverá abrir espaço para um embate que não é visto desde 1998, quando FHC derrotou Lula e chegou ao Palácio do Planalto.
A queda de desempenho de Serra, que, a princípio, era contrário à participação de Fernando Henrique, não lhe deixou alternativa. O candidato tucano teve de recorrer ao ex-presidente, que apareceu no programa de tevê do PSDB anteontem e voltou a bater na tecla do julgamento do mensalão. O pedido de socorro a FHC tem como objetivo recuperar a fatia do eleitorado perdida para Russomanno, hoje com 35% da preferência paulistana. Serra aparece com 21%, seguido de perto por Haddad, que chegou a 16%. Hoje, a expectativa é que Lula rebata as acusações, oficializando a declaração de guerra.
O coordenador da campanha tucana, Edson Bispo, não esconde que FHC estará tão presente na campanha quanto o mensalão nos discursos. "A entrada do presidente, trazendo à cena o tópico da ética, não tem nada a ver como uma suposta fraqueza do desempenho do Serra. Pelo contrário, queremos mostrar que nosso candidato tem história e boas companhias, diferentemente de outros aí, que só andam sozinhos, escondem aliados. O PT está batendo, o Lula está batendo. Não vamos ficar quietos. O uso do mensalão (na campanha) vai depender do tom dos nossos adversários", justificou Edson Bispo.
Apoio. Fernando Haddad não terá Lula só a partir de amanhã. Sem nunca ter concorrido a um cargo eletivo e ainda pouco conhecido em algumas áreas de São Paulo, o petista vem sendo turbinado pela atuação do ex-presidente, idealizador de sua candidatura e presença obrigatória no programa eleitoral do partido. "Não vai ter apenas o Lula. Marta (Suplicy, senadora do PT) já está trabalhando pelo Haddad, o que também acontecerá com a presidente Dilma Rousseff. Na medida em que Haddad fica conhecido, cresce nas pesquisas. Quanto mais Serra se expõe, maior sua queda. Ele nunca usou FHC nas outras campanhas, talvez por encontrar alta rejeição dentro do próprio PSDB. Mas agora bateu o desespero, por isso Fernando Henrique entrou em campo", ironizou o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Carlos Melo não arrisca apontar qual dos dois ex-presidentes tem maior capacidade de transferência de votos, embora lembre que a imagem de Lula está mais fresca na memória do brasileiro e que ele deixou o governo com alto índice de aprovação. "Tanto Haddad quanto Serra estão distantes do patamar histórico de seus partidos em São Paulo, algo em torno de 30%. Não estão dando conta. Por isso, seus padrinhos entrara no jogo. Agora, há risco de que, em vez de elevarem o nível do debate, discutindo os problemas da cidade, eles se atenham a questões do passado, governos anteriores", ponderou o especialista.
Ontem, os candidatos e integrantes de suas respectivas tropas de choque voltaram a abrir fogo. Na companhia de Haddad, Marta Suplicy classificou Serra como o "rei do embromation", e afirmou que o tucano é "mentiroso" e não tem propostas para São Paulo. Ao ser informado da acusação, Serra ironizou a senadora, aproveitando para fazer referência à uma frase dita por ela na semana passada, quando afirmou que o bairro Jardim Ângela "era longe": "Ela estava na periferia quando disse isso?", provocou, ciente de que Marta havia participado de um ato de campanha no Centro da cidade.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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