quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Retrato da classe média - Tereza Cruvinel


O alargamento da classe média tem paralelo com a redução da pobreza, que foi muito maior, proporcionalmente, nos últimos dez anos

A expansão da classe média é a mais concreta tradução das mudanças experimentadas pelo Brasil nos últimos 10 anos, alterando sua face interna e a percepção externa do país. Com a ascensão de 35 milhões de pessoas, a classe média, que representava apenas 38% da população em 2002, saltou para 53% em 2012, totalizando mais de 100 milhões de brasileiros. Conhecer essa nova classe, sua composição, seu desejos, seus projetos, seu pensamento, tornou-se fundamental para o planejamento do país, seja pelo setor privado ou pelos agentes do Estado que formulam e executam políticas públicas. Esse é o objetivo do estudo "Vozes da Classe Média", que será lançado hoje pelas três instituições que o capitanearam: Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), Caixa Econômica Federal e Pnud (Programa Nacional das Nações Unidos para o Desenvolvimento. O parceiro do setor privado foi a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Outras instituições, como Ipea e IBGE, aportaram dados fundamentais para as conclusões do estudo.

"Nos últimos dez anos fomos vitoriosos no esforço de combater a pobreza e a desigualdade. O resultado foi um admirável processo de inclusão dos mais pobres e de expansão da classe média. Agora, precisamos conhecer melhor a nova estratificação social do país e, especialmente, essa nova classe, para continuarmos produzindo políticas públicas adequadas, com vistas ao desenvolvimento continuado e à construção de uma sociedade cada vez mais justa", diz o ministro-chefe da SAE, Moreira Franco.

O alargamento da classe média tem paralelo com a redução da pobreza, que foi muito maior, proporcionalmente, nos últimos 10 anos. Os dois processos são interligados, mas são diferentes, embora complementares. A redução da pobreza foi fortemente alavancada pelos programas sociais do governo passado, especialmente os de transferência de renda. Mas, para a expansão da classe média, pesaram especialmente o crescimento da economia, do crédito e do emprego formal no período.

O estudo começa tentando responder à pergunta que você, leitor, deve estar se fazendo: afinal, o que é ser classe média, hoje em dia? Segundo os formuladores, devem ser considerados das classes mais baixas (D e E, segundo a metodologia convencional) todos que têm grandes chances de continuar a ser pobres no futuro, vivendo com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019. Da classe média seriam todos aqueles com renda per capita superior a R$ 1019,00 mensais.

A partir dessa definição, cruzando dados diversos, especialmente das pesquisas do Ipea e do IBGE, foi traçado o retrato mais nítido até agora produzido sobre a nova classe que expressa o novo país que está surgindo. Foi a classe média que mais se beneficiou do aumento do emprego, por exemplo. Nessa classe, 61% têm emprego formal, contra a média de 58% do conjunto dos trabalhadores.

Enquanto a renda média do conjunto das famílias cresceu 2,4%, na classe média esse aumento foi 3,5%. No consumo, a proporção é a mesma.

Podemos dizer que a nova classe média expressa o ideal da sociedade racialmente democrática que, de fato, só começou a existir agora. Pode-se até dizer que a classe média é morena: 53% são negros e 47% são brancos. Estatísticamente, esses números traduzem equilíbrio. Quanto à escolaridade, 90% têm, no máximo, o segundo grau, mas os jovens sonham com o diploma universitário.

A floresta de números é vasta, densa e relevante para quem precisa compreender o Brasil de hoje. Mas o estudo procura decifrar também aspectos subjetivos, como a ideologia dessa nova classe média, sua cultura de ser, para além de suas inclinações políticas, ideológicas e partidárias. Nesse sentido, o PT foi inegavelmente o desaguadouro dos votos das classes que o governo Lula mais beneficiou — C, D e E. Os mais pobres e a nova classe média ascendente.

Mas, segundo os cientistas sociais, na medida em que o sujeito ascende na escala social e conjuga mais intensamente os verbos ter e consumir, vai ficando mais conservador. A ser verdade, está criado para o PT da era Dilma o desafio de conservar o apoio e o voto desses segmentos. Especialmente agora, quando, no julgamento do STF, o ministro Joaquim Barbosa faz picadinho da história do PT e a oposição, também em sentido amplo, mira a desconstrução do legado e da biografia de Lula. Tempos difíceis, e tudo tende a piorar. Mas o país melhorou.

Uma pergunta. Os advogados de defesa gostariam de perguntar ao ministro Joaquim Barbosa por que ele separou os réus petistas que receberam do valerioduto (Paulo Rocha, João Magno e Professor Luizinho, afora João Paulo Cunha) dos líderes de outros partidos da base. Se estivessem todos na mesma fatia, seria complicado afirmar que os petistas receberam "vantagens indevidas" para votar a favor do governo do PT.

Do além, o vice-presidente José Alencar gostaria de informar a Barbosa que o PL era o seu partido, tendo obrigação de votar a favor do Governo. Que, de fato, Waldemar colocou a faca no pescoço do PT, condicionando o ingresso do PL na coligação ao financiamento da campanha de seus deputados, sem o quê Alencar não poderia ser vice de Lula. Os jornais da época publicaram. O PT demorou a pagar, gerando queixas frequentes de Waldemar. O PT ficou devendo até à Coteminas, empresa de Alencar que fabricou as camisetas da campanha.

História. Morreu Santiago Carrillo, personagem fundamental da construção da moderna Espanha. Foi o condutor da transição que permitiu o Pacto de Moncloa e a restauração democrática pós-Franco, abrindo caminho para o PSOE de Adolfo Suarez.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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