A presidente Dilma
Rousseff quer reeditar a aliança com o PMDB em 2014, quando pretende concorrer
a um segundo mandato. A estratégia começou a ser construída em São Paulo, com o
apoio do PMDB a Fernando Haddad, e já virou prioridade em outras praças do
País. O objetivo é montar um palanque nacional pró-Dilma, isolar o PSDB e dar
um sinal de alerta ao PSB do governador Eduardo Campos (PE), que se movimenta
para assumir posição de destaque. O mapa político indica que o PT terá o PMDB
ao seu lado em pelo menos 10 das 22 cidades onde disputa o segundo turno das
eleições municipais
PT e PMDB usam 2º
turno como prévia para repetir aliança em 2014
Estratégia tem como objetivos derrotar Serra na capital, montar palanque
nacional pró-Dilma, isolar o presidenciável tucano Aécio Neves e impedir o
governador do PSB, Eduardo Campos, de alçar voo próprio
Vera Rosa, Julia Duailibi e Amanda Rossi
A presidente Dilma Rousseff quer reeditar a aliança com o PMDB em 2014,
quando pretende concorrer a um segundo mandato. A estratégia para o novo
casamento começou a ser construída em São Paulo, com o apoio do PMDB ao
candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad, e já virou prioridade em outras
praças. Com o radar voltado para a montagem de um palanque nacional pró-Dilma,
a meta dos dois partidos é isolar o PSDB e dar um sinal de alerta ao PSB do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se movimenta para assumir posição
de destaque no jogo de 2014.
O mapa político indica que o PT terá o PMDB ao seu lado em pelo menos 10 das
22 cidades onde disputa o segundo turno. Nelas, há um universo de 11,9 milhões
de eleitores que os petistas pretendem conquistar no próximo dia 28 com o apoio
do aliado.
Até agora, os principais acordos do PMDB para a segunda etapa da eleição
foram costurados pelo vice-presidente Michel Temer, licenciado do comando do
partido, com uma tática que vai além da dobradinha para as prefeituras. Na
prática, Dilma, Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalham
para a construção de parcerias mais amplas com a base aliada, de olho nas
disputas aos governos estaduais e ao Palácio do Planalto, daqui a dois anos. A
ofensiva pretende avançar sobre os domínios do senador Aécio Neves (PSDB-MG),
provável adversário de Dilma em 2014, derrotar o tucano José Serra em São Paulo
e impedir Campos de alçar voo próprio.
Embora setores do PT defendam reservadamente a volta de Lula, a tendência é
a candidatura de Dilma. "A única possibilidade de eu voltar ao governo
seria se Dilma não quisesse se reeleger. Não posso permitir que um tucano volte
a governar", disse o ex-presidente, em maio, no Programa do Ratinho,
transmitido pelo SBT. Lula não mudou de ideia desde então. Até hoje, repete o
mantra a dirigentes de partidos.
Em São Paulo, Lula e Temer fecharam o acordo que selou o apoio de Gabriel Chalita,
candidato derrotado do PMDB, à campanha de Haddad, contra José Serra (PSDB). O
PMDB nega moeda de troca eleitoral, mas o pacote da adesão prevê a
transferência do deputado Chalita para um ministério. Ele deverá ganhar um
cargo na Esplanada quando Dilma fizer a reforma na equipe, no início de 2013,
levando em conta a nova configuração das urnas. Chalita já gravou mensagem para
Haddad na propaganda de TV. Sua missão, agora, é atrair votos dos católicos.
Exigência. O presidente do PMDB paulista, Baleia Rossi, admite que o pano de
fundo para a união com o PT nos embates municipais é a sucessão no Planalto.
"Nosso projeto é nacional. Temos como objetivo manter essa aliança
vitoriosa", afirmou Rossi. "A primeira exigência na costura das parcerias
pelo Estado é o apoio à candidatura de Dilma, em 2014", emendou o
presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva.
O PMDB controla hoje 5 dos 39 ministérios (Minas e Energia, Previdência,
Agricultura, Turismo e Assuntos Estratégicos), mas avalia que precisa de pastas
com mais visibilidade política. Além disso, os números mostram que o partido de
Temer é mais fiel do que o PT e seu principal parceiro em São Paulo, o maior
colégio eleitoral do País.
Com finalistas para o segundo turno em 16 cidades, que reúnem 5,7 milhões de
eleitores, o PMDB conta com apoio dos petistas em apenas cinco (Sorocaba,
Florianópolis, Campina Grande, Guarujá e Volta Redonda). O número, porém, pode
crescer, pois o PT ainda não se posicionou em Joinville, Cariacica e Uberaba.
Em Natal, os petistas não se uniram ao candidato do PMDB, Hermano Morais, e
decidiram dar "apoio crítico" ao concorrente do PDT, Carlos Eduardo
Alves. A capital do Rio Grande do Norte integra uma lista de pelo menos 16
cidades onde o PT e o PMDB estão em campos opostos, mas não necessariamente com
candidatos em confronto direto.
"A campanha em Natal terá a neutralidade de Dilma e de Lula. Nós
agradecemos muito esse gesto", disse o deputado Henrique Eduardo Alves,
presidente do PMDB-RN e líder do partido na Câmara. Alves é primo de Carlos
Eduardo, mas ambos estão rompidos. Em fevereiro, Alves deverá assumir a
presidência da Câmara. E o comando do Senado pode voltar às mãos de Renan
Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ao cargo, em 2007, acuado por uma série de
denúncias.
Dilma avisou aos parlamentares do PT que o acordo feito com o PMDB para dar ao
partido de Temer a direção das duas Casas terá de ser cumprido. "Nós temos
palavra", afirmou a presidente, mandando recado aos petistas
insatisfeitos. "A fotografia de hoje é essa, muito nítida. Se vai mudar eu
não sei, mas tudo indica que o retrato será o mesmo", previu Alves.
Fichas. Apesar de presidir o PSB, partido que mais cresceu até agora nas
eleições, Eduardo Campos nega que suas articulações sejam para enfrentar Dilma.
Enciumado, o PMDB avalia que o governador quer desbancar Temer da vice, em
2014, para se lançar ao Planalto, em 2018. Nos bastidores, o comentário é que
Campos "joga com fichas terceirizadas". É uma provocação à aliança do
prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), com Aécio. Na
capital de Minas, o PMDB desistiu da candidatura própria, a pedido de Dilma,
para patrocinar Patrus Ananias (PT), que perdeu.
No Rio, o caminho foi inverso: o PT abriu mão da cabeça de chapa e apoiou a
reeleição de Eduardo Paes (PMDB). Em Salvador, porém, o PT do governador Jaques
Wagner e o PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima vivem às turras. Lá, os
peemedebistas não chegaram ao segundo turno.
Agora, o mais forte polo de articulação da dobradinha PT-PMDB está em São
Paulo. Além de endossar Haddad, Temer atuou para o PMDB avalizar Márcio
Pochmann (PT) em Campinas e impediu a adesão a Jonas Donizette (PSB), discípulo
do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Nas negociações, o PMDB acertou com Lula
e Dilma a gravação de mensagens de apoio a seus principais candidatos no
horário gratuito.
Fonte:
o Estado de S. Paulo
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