domingo, 14 de outubro de 2012

Vitória nas eleições não absolverá PT do mensalão, diz Serra


Tucano afirma que governo Lula foi indiretamente condenado e que Haddad carrega "currículo do partido"

Depois de ataques, candidato alega que tucanos estão somente "aprendendo" a usar direito de se defender

Daniela Lima

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, rechaça a tese do ex-presidente Lula de que o PT deve responder ao julgamento do mensalão nas urnas. O tucano diz que uma vitória eleitoral não absolverá o partido.

"O maior julgamento contra corruptos da história do Brasil condenou figuras da mais alta relevância no PT. Indiretamente, [condenou] o próprio governo Lula", disse ele, em entrevista à Folha. "Lula e Dirceu estão querendo usar a eleição em São Paulo como cortina de fumaça. Querem dizer que, se ganharem, é como se não tivesse havido mensalão. É absurdo."

No último Datafolha, Serra tinha 37%, contra 47% de Fernando Haddad (PT). Ele sinaliza que a disputa será de fogo cruzado. "Tenho o direito de me defender. Os tucanos não fazem isso bem, mas a gente vai aprendendo."

Folha - Que balanço o sr. faz do primeiro turno?

José Serra - Nunca achei que não fosse para o segundo turno. E não fiquei surpreso com a votação do PT. Até o Aloizio Mercadante, que era um candidato muito pior que o Haddad, o pior que o PT já teve, chegou a esse patamar.

Como avalia sua rejeição, que chegou a 46%?

Vem das mesmas pesquisas que não pegaram que eu chegaria em primeiro lugar.

O sr. aparece atrás de Haddad nas pesquisas do 2º turno. Como pretende reverter isso?

O PT sempre foi muito ruim de serviço no Executivo. Eles deixaram a cidade falida. Há ainda o fato de que os pontos mais fracos do PT são educação e saúde. Sempre.

Seu rival é apresentado pelo ex-presidente Lula como o melhor ministro da Educação...

Os estragos que foram feitos nos últimos anos na educação pesarão durante décadas. O Enem fracassou em parte pela incapacidade operacional de fazê-lo, mas também pelo equívoco das mudanças realizadas. Eu não diria que a culpa é do Haddad, ele é apenas despreparado para a educação.

Uma das maiores vitrines de Haddad é o ProUni. Que avaliação faz do programa?

É um programa de bolsas, nada mais. Não sou contra, mas está longe de ser uma inovação. Em São Paulo já tinha isso. Eles apenas fizeram algo mais massivo e com desconto de impostos. Cada bolsa é um gasto. Diminui receitas do governo.

O sr. tem ligado Haddad ao mensalão. Ele não é réu no processo. Por que vinculá-lo?

Porque ele é do partido do mensalão. O Zé Dirceu é muito importante para o PT e para ele.
Numa campanha, você carrega consigo sua biografia, suas companhias e o currículo do seu partido.

O ex-presidente Lula disse que o PT dará a resposta ao julgamento nas urnas...

As urnas deram resposta. O PT ficou fora em três capitais importantes: Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Lula e Dirceu estão querendo usar a eleição em São Paulo como cortina de fumaça. Querem dizer que, se ganharem, é como se não tivesse havido mensalão. É absurdo [o pensamento], mas não dentro do estilo de trabalho deles.

Haddad tem dito que não fugirá ao debate ético e promete responder citando polêmicas como Paulo Preto [Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa que depôs na CPI do Cachoeira sobre suspeitas em obras de SP] e o livro "Privataria Tucana" [que liga Serra a suspeitas no governo FHC].

Vai falar do Paulo Souza? Ele que diga o que quer saber e por que o PT não o questionou na CPI [do Cachoeira], onde fez convocação forçada.

E sobre o livro?

Isso não existe. O PT, em matéria de baixaria, tem currículo. Em 2002, fez ataques à minha família. Em 2006, os aloprados. Em 2010, espionagem. Agora, eu tenho o direito de me defender. Os tucanos não fazem isso bem, mas a gente vai aprendendo.

Como assim?

Há uma diferença: uma coisa é acusação, outra é o maior julgamento contra corruptos da história do Brasil. O STF condenou por corrupção figuras da mais alta relevância dentro do PT. Indiretamente, [condenou] o próprio governo Lula. Isso é um fato.

O sr. tem buscado apoio religioso...

Haddad foi à missa hoje [sexta-feira] e até comungou. Isso não é buscar apoio religioso? Agora, eu não sou cristão de boca de urna.

Como avalia a polêmica sobre o chamado "kit gay" [feito para o Ministério da Educação na gestão Haddad com a justificativa de combater a homofobia nas escolas, mas que acabou não distribuído]?

Nós fizemos a melhor campanha contra Aids do mundo. O papel da comunidade gay foi decisivo. Nunca saiu nenhum filme da campanha que eu não tivesse revisado. O Haddad fez uma coisa desastrada. Era um material de doutrinação, malfeito.

O que pensa do apoio do pastor Silas Malafaia [da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e que prometeu "arrebentar" Haddad] à sua campanha, criticado pelo PT?

Não criticam o Malafaia, criticam que não esteja com eles. No Rio, Malafaia apoiou o Eduardo Paes, cujo vice é do PT. Quando não apoia Haddad, aí é satanizado.

Fonte: Folha de S. Paulo

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