Tucano afirma que governo Lula foi indiretamente condenado e que Haddad
carrega "currículo do partido"
Depois de ataques, candidato alega que tucanos estão somente
"aprendendo" a usar direito de se defender
Daniela Lima
SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, rechaça
a tese do ex-presidente Lula de que o PT deve responder ao julgamento do
mensalão nas urnas. O tucano diz que uma vitória eleitoral não absolverá o
partido.
"O maior julgamento contra corruptos da história do Brasil condenou
figuras da mais alta relevância no PT. Indiretamente, [condenou] o próprio
governo Lula", disse ele, em entrevista à Folha. "Lula e Dirceu estão
querendo usar a eleição em São Paulo como cortina de fumaça. Querem dizer que,
se ganharem, é como se não tivesse havido mensalão. É absurdo."
No último Datafolha, Serra tinha 37%, contra 47% de Fernando Haddad (PT).
Ele sinaliza que a disputa será de fogo cruzado. "Tenho o direito de me
defender. Os tucanos não fazem isso bem, mas a gente vai aprendendo."
Folha - Que balanço o sr. faz do primeiro turno?
José Serra - Nunca achei que não fosse para o segundo turno. E não fiquei
surpreso com a votação do PT. Até o Aloizio Mercadante, que era um candidato
muito pior que o Haddad, o pior que o PT já teve, chegou a esse patamar.
Como avalia sua rejeição, que chegou a 46%?
Vem das mesmas pesquisas que não pegaram que eu chegaria em primeiro lugar.
O sr. aparece atrás de Haddad nas pesquisas do 2º turno. Como pretende
reverter isso?
O PT sempre foi muito ruim de serviço no Executivo. Eles deixaram a cidade
falida. Há ainda o fato de que os pontos mais fracos do PT são educação e
saúde. Sempre.
Seu rival é apresentado pelo ex-presidente Lula como o melhor ministro da
Educação...
Os estragos que foram feitos nos últimos anos na educação pesarão durante
décadas. O Enem fracassou em parte pela incapacidade operacional de fazê-lo,
mas também pelo equívoco das mudanças realizadas. Eu não diria que a culpa é do
Haddad, ele é apenas despreparado para a educação.
Uma das maiores vitrines de Haddad é o ProUni. Que avaliação faz do
programa?
É um programa de bolsas, nada mais. Não sou contra, mas está longe de ser
uma inovação. Em São Paulo já tinha isso. Eles apenas fizeram algo mais massivo
e com desconto de impostos. Cada bolsa é um gasto. Diminui receitas do governo.
O sr. tem ligado Haddad ao mensalão. Ele não é réu no processo. Por que
vinculá-lo?
Porque ele é do partido do mensalão. O Zé Dirceu é muito importante para o
PT e para ele.
Numa campanha, você carrega consigo sua biografia, suas companhias e o
currículo do seu partido.
O ex-presidente Lula disse que o PT dará a resposta ao julgamento nas
urnas...
As urnas deram resposta. O PT ficou fora em três capitais importantes: Belo
Horizonte, Recife e Porto Alegre. Lula e Dirceu estão querendo usar a eleição
em São Paulo como cortina de fumaça. Querem dizer que, se ganharem, é como se
não tivesse havido mensalão. É absurdo [o pensamento], mas não dentro do estilo
de trabalho deles.
Haddad tem dito que não fugirá ao debate ético e promete responder citando
polêmicas como Paulo Preto [Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa que
depôs na CPI do Cachoeira sobre suspeitas em obras de SP] e o livro
"Privataria Tucana" [que liga Serra a suspeitas no governo FHC].
Vai falar do Paulo Souza? Ele que diga o que quer saber e por que o PT não o
questionou na CPI [do Cachoeira], onde fez convocação forçada.
E sobre o livro?
Isso não existe. O PT, em matéria de baixaria, tem currículo. Em 2002, fez
ataques à minha família. Em 2006, os aloprados. Em 2010, espionagem. Agora, eu
tenho o direito de me defender. Os tucanos não fazem isso bem, mas a gente vai
aprendendo.
Como assim?
Há uma diferença: uma coisa é acusação, outra é o maior julgamento contra
corruptos da história do Brasil. O STF condenou por corrupção figuras da mais
alta relevância dentro do PT. Indiretamente, [condenou] o próprio governo Lula.
Isso é um fato.
O sr. tem buscado apoio religioso...
Haddad foi à missa hoje [sexta-feira] e até comungou. Isso não é buscar
apoio religioso? Agora, eu não sou cristão de boca de urna.
Como avalia a polêmica sobre o chamado "kit gay" [feito para o
Ministério da Educação na gestão Haddad com a justificativa de combater a
homofobia nas escolas, mas que acabou não distribuído]?
Nós fizemos a melhor campanha contra Aids do mundo. O papel da comunidade
gay foi decisivo. Nunca saiu nenhum filme da campanha que eu não tivesse
revisado. O Haddad fez uma coisa desastrada. Era um material de doutrinação,
malfeito.
O que pensa do apoio do pastor Silas Malafaia [da Assembleia de Deus Vitória
em Cristo e que prometeu "arrebentar" Haddad] à sua campanha,
criticado pelo PT?
Não criticam o Malafaia, criticam que não esteja com eles. No Rio, Malafaia
apoiou o Eduardo Paes, cujo vice é do PT. Quando não apoia Haddad, aí é
satanizado.
Fonte:
Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário