Mário Machado
A cúpula do PT durante o primeiro governo Lula foi condenada por corrupção
pelo STF. Que conclusões políticas podemos tirar disso?
Primeiro: se a condenação tivesse sido decidida por apertada maioria de
votos, seria inevitável que afirmassem tratar-se de julgamento de exceção, como
se isso pudesse ocorrer impunemente em um estado democrático de direito e,
ainda por cima, de maneira tão transparente. Mas a condenação resultou de ampla
maioria e até unanimidade.
Segundo: o STF deixou claro que a corrupção pública encontrou um sério
adversário no tribunal. Não mais poderão os partidos políticos usar e abusar do
caixa dois. Doadores e receptores deverão agora pensar antes de se envolver
nesse tipo de negociata, porque os riscos de punição aumentaram muito. E se
outros casos similares existem, como o mensalão mineiro, que sejam igualmente
julgados e punidos. Agora e sempre.
Terceiro: o ex-presidente Lula não mais poderá alegar que o mensalão nunca
existiu, que tudo não passou de uma tentativa de golpe das elites contra seu
governo. O STF reconheceu que partidos foram comprados e inchados com recursos
financeiros do valerioduto, tudo decidido pela direção do PT, para construir a
base parlamentar do governo. Pode o ex-presidente continuar a dizer que só
admite que sua biografia seja julgada pelo povo, como se pairasse acima das
leis? Perigosa, mas inútil arrogância.
Quarto: o PT passou a ter uma ficha suja em seu patrimônio político, e
vários de seus dirigentes já começaram a se afastar, mas só agora, dos
companheiros condenados. Pois, se o julgamento do Supremo é complexo, a ideia
de ficha suja é fácil de entender. Todo munda sabe o que é. Assim, embora esse
julgamento não tenha tido maior impacto no primeiro turno da eleição municipal,
diferente será daqui para a frente, à medida que um número crescente de
cidadãos tome consciência do que se passou. Bem distintas poderão ser as
eleições presidenciais de 2014.
Fonte:
O Globo
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