0 chuchu levou a fama pela alta da inflação em 1977. Hoje, o culpado é outro: a R$ 10,58 o quilo no DF, o tomate virou um dos vilões do custo de vida e tem sido boicotado pelas donas de casa.
À espera de um milagre
O governo está cruzando os dedos para que a inflação de março, que será divulgada na próxima sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se transforme no "milagre" que pode afastar a necessidade de alta da taxa básica de juros (Selic). Os indicadores preliminares calculados pela equipe econômica e pelo mercado financeiro mostram que são grandes as chances de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourar o teto da meta, de 6,5%, no acumulado dos 12 meses, o que enterraria qualquer argumento do Banco Central para manter a Selic inalterada em 7,25% ao ano por mais tempo. "Ainda temos uma ponta de esperança, apesar de sabermos que, a curto prazo, o quadro não é bom para a inflação", disse um importante auxiliar da presidente Dilma Rousseff.
A expectativa da equipe econômica era de que, com a desoneração da cesta básica, os preços dos alimentos registrassem uma forte desaceleração em março. Mas, com a disparada dos preços dos hortifrútis, por causa do excesso de chuvas em algumas regiões do país, boa parte do corte de impostos foi anulada pelos reajustes nas feiras e nas gôndolas dos supermercados. O caso mais exemplar é o do tomate, cujo quilo está variando entre R$ 10 e R$ 14, provocando reações raivosas dos consumidores. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, porém, que o pior da inflação ficou para trás. Ontem, em São Paulo, ele afirmou que o custo de vida está caindo mês a mês.
"O IPCA de janeiro foi de 0,86%. Em fevereiro, ficou em 0,60%. Provavelmente, o de março será menor ainda", assinalou o ministro. Segundo ele, o aumento do custo de vida foi elevado em janeiro, por causa do regime de chuvas. Mas a tendência é de recuo nos reajustes, pois o país deverá ter uma safra recorde, ampliando a oferta de produtos. Mantega assegurou que, com o fim do período chuvoso, também os preços dos hortifrútis deverão ceder. "É no acumulado de 12 meses, que dá um número maior para a inflação. Mas o governo está atento, não permitirá que os preços fujam do controle. Tomaremos todas as medidas necessárias. Porém, estamos esperando uma safra melhor e o preço de alimentação, vilão da inflação, deve voltar a cair", assinalou.
Commodities
O otimismo de Mantega não encontra eco em todo o governo. Parte da equipe econômica ressalta que o nível atual da inflação exige ações que vão além do discurso. Ao mesmo tempo em que o custo de vida no país não dá trégua — 75% de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE apontam alta —, já não é mais possível contar com a ajuda do exterior para manter o custo de vida em um nível aceitável. Diante da melhora da economia dos Estados Unidos e da Europa, que conseguiu debelar uma crise em Chipre, está cada vez mais claro que não haverá uma forte queda dos preços das commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação em bolsa) para derrubar a inflação.
"Ou seja, o quadro internacional está menos desinflacionário do que projetávamos. Muitos dos nossos problemas inflacionários terão de ser resolvidos por nós, contando um pouco com a sorte e com a diminuição das chuvas", frisou outro técnico do governo. "No nosso cenário, se realmente o BC tiver que aumentar os juros, a Selic ficará entre 8,25% e 8,50% ao ano. Não há por que ir além desse nível, pois os preços dos alimentos, que têm puxado a inflação, não são afetados pelos juros. O que se pretende, na verdade, com o aperto monetário, é retomar o controle das expectativas e a credibilidade do BC", acrescentou.
Fonte: Correio Braziliense
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