Os governistas podem argumentar que a receita das gestões petistas — de Dilma e de Luiz Inácio Lula da Silva — aumentou, levando em conta o crescimento do Produto Interno Bruto nos últimos anos. Ou mesmo que tanto Dilma quanto Lula reergueram a máquina pública, com contratações, salários e distribuição de programas sociais. Mas o custo por parlamentar aumentou, de qualquer forma. Tão importante quanto a crítica é a possibilidade de discutir políticas. Apresentar a distribuição do poder a partir do volume de recursos é apenas uma forma de estimular tal debate.
A segunda reportagem, publicada na última quinta-feira — dia seguinte à posse do novo ministro dos Transportes, César Borges —, mostrou que, em 2012, a pasta conseguiu investir menos da metade do previsto no Orçamento. Os textos produzidos por Leandro Kleber e Karla Correia mostram que, desde o escândalo de superfaturamento — em 2011, na gestão do então ministro, Alfredo Nascimento —, as torneiras foram fechadas. Por conta das auditorias, dos problemas básicos de gestão e da própria burocracia, os camaradas que vieram depois de Nascimento não conseguiram executar os recursos.
Segundo a reportagem, dos R$ 23,2 bilhões — a assessoria do órgão cita R$ 17 bilhões — previstos para todo o ano passado, apenas R$ 10,5 bilhões foram desembolsados pelos Transportes. Quando se prepara um plano de orçamento, leva-se em conta as necessidades da pasta — no caso, mais específico da população, que usará os serviços prestados por determinado órgão. Ao estabelecer que seriam necessários “X” para cuidar da infraestrutura, deve-se acreditar nas prioridades da gestão, na eficiência.
Quando se gastou metade do valor, ficou faltando a outra parte, por impedimentos técnicos e políticos. Os números apresentados pelo Correio revelam como a corrupção — diríamos aqui, suposta — afeta a máquina pública, não apenas ao longo do crime ou mesmo durante a descoberta do escândalo, mas também depois de um longo período. Para se ter uma ideia, os investimentos da pasta em 2012 foram menores do que nos dois anos anteriores. É um fato raro na administração pública, um caso de estudo para não se repetir, pois. Mais uma vez, os números puxaram o debate.
Outra coisa
As autoridades brasileiras precisam entender de uma vez por todas que a sociedade não tolera mais privilégios e mordomias, como se estivéssemos a viver em país atrasado, ainda distante da transparência. Na edição de ontem, o Correio mostrou que o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira, usa o carro oficial para ir à academia para fazer exercícios. No vídeo, ele aparece com uma garrafinha de água, camiseta branca, bermuda azul e tênis amarelo. Malha — ou melhor, estava indo malhar — com o dinheiro público.
Fonte: Correio Braziliense
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