O cenário de composições partidárias para o pleito presidencial, que parecia consolidar-se no primeiro tri-mestre de 2014, projetava amplíssima aliança em favor da reeleição de Dilma Rousseff. Sem que fosse muito afetado por dissidências em alguns estados que se aglutinavam em torno de candidaturas majoritárias sem compromisso de exclusividade do apoio a Dilma ou vinculadas explicitamente à oposição nacional (dissidências expressivas de conflitos locais entre legendas dessa aliança, sobretudo entre o PT e o PMDB).
Ao longo de abril, tal cenário sofreu mudanças significativas e que poderão acentuar-se até as convenções das diversas legendas, em junho. Quanto à disputa maior, o sinal mais recente de mudanças é o aumento das resistências no PR e no PP, e já também no PSD, à presença deles na aliança reeleitoral. E quanto aos pleitos nos estados, adensam-se nas duas últimas legendas, e no PMDB, ações para a montagem de palanques desligados daquela aliança e em parte já explicitando respaldo à oposição nacional, em ambas as situações em contraposição a candidatos ou composições do PT.
Essa contraposição explica o balanço – feito ontem no Valor, pelo secretário geral do PSD, Saulo Queiroz – sobre as posturas que seu partido está adotando nas eleições estaduais: “Não são muitos os lugares onde o PSD irá caminhar junto com o PT. Nas regiões Sul e Sudeste (ou seja, do Rio Grande do Sul a Minas) não estaremos juntos com o PT em nenhum estado”. Acrescentando que “num estado onde o PSD já se co-ligou com o PSDB contra o PT, não tem como o partido ir para Dilma”. Ela também constitui a causa básica do lançamento, neste mês, pelo PMDB da Bahia, da candidatura de Geddel Vieira Lima ao Senado, na chapa oposicionista (nos dois planos) articulada por Aécio Neves e que terá Paulo Souto, do DEM, na disputa do governo do estado; bem como da participação do presidente do diretório peemedebista do Rio de Janeiro, Jorge Picciani , no movimento Aezão, que vincula as candidaturas de Luiz Fernando Pezão ao governo fluminense à de Aécio a presidente; e ainda das articulações para composição, no Ceará, entre os nomes de Eunício Oliveira, do PMDB, para o governo estadual e o do tucano Tasso Jereissati, para o Senado; além do apoio dos peemedebistas de Pernambuco à campanha de Eduardo Campos. Por outro lado, reforça-se o oposicionismo no PP com o apoio de Aécio à candidata do partido ao governo gaúcho, a senadora Ana Amélia, e, em Minas, com a ascensão do vice-governador Alberto Pinto Coelho à chefia do Executivo, substituindo o tucano Antonio Anastasia, que deverá disputar o Senado.
Potencializadas pelas quedas, nas pesquisas feitas em abril, das avaliações da presidente e da candidata, as referidas resistências poderão crescer de escala com os resultados de novas sondagens do eleitorado previstas para os próximos dias. Que deverão refletir o impacto da sucessão de denúncias que envolvem a Petrobras, somado às reações à crescente pressão inflacionária dos alimentos e dos serviços e aos diversos indicadores macro e microeconômicos negativos. E as novas pesquisas terão efeitos anti-Dilma e anti-PT ainda maiores se apontarem crescimento dos candidatos oposicionistas, em especial de Aécio. Nesta hipótese – que, ademais de afirmar o novo cenário de 2º turno, abrirá perspectiva de vitória oposicionista no turno final – o maior perigo para a campanha reeleitoral será um salto nas pressões pelo “volta Lula”, nos partidos aliados, inclusive no PMDB, e no próprio PT. Pressões já antecipadas pela maioria da bancada de deputados federais do PR.
Mas o ex-presidente seguirá rejeitando essas pressões e empenhado para a melhoria dos índices de avaliação social da candidatura petista. Porque, de um lado, continua convencido de que conseguirá manter ampla coligação de apoio e de que ela será competitiva num 2º turno. E porque, de outro lado, insiste na avaliação de que render-se ao “volta Lula” implicaria em verdadeiro desmonte do governo, com perigosas consequências políticas e eleitorais para o PT e para ele – para a candidatura que assumisse e, vencendo a disputa, para o agravamento do legado de problemas econômicos e sociais a que teria de dar respostas. Respostas duras que comprometeriam seriamente a imagem de presidente com alta popularidade nos dois mandatos que desempenhou, e que projeta capitalizar numa candidatura em 2018.
Jarbas de Holanda é jornalista
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