• Presidente do PP saiu da convenção aos gritos de ‘covarde’ e ‘golpe’
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - Numa vitória da presidente Dilma Rousseff, o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), manobrou por duas vezes e aprovou, em reunião da Executiva Nacional a portas fechadas, a aliança em torno da reeleição da petista. Apesar das resistências na convenção realizada mais cedo e que terminou em bate-boca, Ciro fez duas manobras para garantir apoio a Dilma e mais tempo à petista. Depois de aprovar na convenção do partido, em votação simbólica, que a decisão final seria da Executiva Nacional, Ciro fez um encontro relâmpago, em seu gabinete, para oficializar o apoio a Dilma.
O encontro foi feito às pressas, sem o conhecimento de defensores da neutralidade, como a senadora Ana Amélia (PP-RS). Para viabilizar a manobra, o presidente do PP utilizou uma lista de presença antiga, coletada no início da convenção.
Em nota divulgada algumas horas após a decisão, o partido defende o caminho que foi escolhido para aprovar o apoio e afirma que havia maioria para apoiar Dilma. “O presidente do partido, senador Ciro Nogueira, disse que a decisão foi tomada em comum acordo com a maioria e que a discordância de dois diretórios estaduais (MG e RS) faz parte do processo democrático. O Partido Progressista segue coeso e caminha de forma coerente com sua proposta de continuar contribuindo para o desenvolvimento do país”, afirmou.
A primeira manobra foi realizada ainda durante a convenção do PP. No encontro, Ciro aprovou, em questão de minutos, a Resolução que deixava para a Executiva Nacional a decisão sobre a aliança com Dilma e liberava os acordos nos estados. Com o apoio do PP, Dilma ganha mais 1 minuto e 26 segundos de TV. A decisão de Ciro deverá ser contestada e deve se transformar numa brigada dentro do partido, que entrou em crise. Mais cedo, ele foi xingado de "vendido".
— Ficou definido o apoiamento (a Dilma). Apenas dois diretórios, dos 27, se rebelaram. A maioria quer o apoio a Dilma a aprovação. Não ficou um clima ruim. Apenas dois diretórios quiseram chamar a atenção — disse Ciro Nogueira.
O encontrou durou em cerca de cinco minutos, em seu gabinete. Ciro tomou a decisão enquanto Ana Amélia e outros davam entrevistas no local da convenção.
Minutos antes, na convenção, Ciro atropelou e aprovou, em questão de minutos, a proposta que deixava a decisão final para a Executiva Nacional. Nela, Ciro tem maioria para aprovar apoio a Dilma. Ele saiu da convenção aos gritos de "vergonha", "vendido", "covarde" e "golpe", sendo alvo de bolinhas de papel jogadas pelos convencionais que defendiam a neutralidade, principalmente os do Rio Grande do Sul.
Senadora vai recorrer à justiça eleitoral
Ana Amélia (PP-RS) disse que vai recorrer à Justiça Eleitoral contra a decisão tomada pela cúpula. Ela disse que lamenta a postura da direção do partido e que não aceita toma-lá-dá-cá nas negociações com o Palácio do Planalto.
- Estou extremamente desolada. A tendência majoritária na convenção era pela proposta da neutralidade. Mas a liberação nos estados é simbólica, para inglês ver, porque não posso mostrar o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, por exemplo. Estamos questionando a legitimidade. É um jogo na coxa pesado. Um jogo absolutamente de cartas marcadas - disse Ana Amélia.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), reagiu com naturalidade, afirmando que cumpriu todas as regras. Ele realizou a convenção com o quorum obtido numa lista de presença colocado à disposição na entrada da convenção. Mas, na verdade, muitos assinaram sem saber que era para marcar a reunião da Executiva.
Ciro não quis dizer quantos estavam, de fato, na reunião feita a portas fechadas, na presidência do PP, que fica também no Senado. O senador Francisco Dornelles não participou. Ciro ainda lamentou atitudes como a do deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que chegou a colocar o dedo em riste contra ele, na convenção.
- Havia o suficiente (quorum) para a aprovação. Os outros resolveram se ausentar. é uma questão interna, está sacramentada, o recurso da senadora é mais para ganhar mídia. Ela tem reconhecer que tinha maioria para aprovar apoio a Dilma - disse Ciro, acrescentando: - O deputado Heinze está se tornando uma figura pitoresca.
Paulo Octávio participa da convenção
O ex-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio, que foi preso no dia 2 de junho e liberado no dia 7, esteve na convenção. Ele passou rapidamente pelo evento, tirou fotos, e saiu, sem ter ocupado posto na mesa da direção da convenção. Ele foi apontado pelo Ministério Público por suspeita de participar de um suposto esquema de corrupção de agentes públicos para a concessão de alvarás para a construção de prédios.
A cúpula do PP estava pressionada pelo Palácio do Planalto para garantir o apoio à presidente Dilma Rousseff, dando tempo de TV ao PT, mas liberando as alianças com PSDB e PSB nos estados. A senadora Ana Amélia (PP-RS) e o governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, apresentaram na convenção a proposta de neutralidade na eleição nacional, sem dar apoio a Dilma, com libertados nas alianças regionais.
A senadora gaúcha foi aplaudida pelos convencionais. O presidente da sigla, senador Ciro Nogueira, quer deixar a decisão final para a Executiva, numa reunião à noite, onde tem maioria dos votos para garantir o apoio a Dilma.
— Estamos aqui para mostrar ao país que o PP, tantas vezes enxovalhado, está revigorado. E temos a sábia decisão da neutralidade. O cenário muda a cada semana, e a oposição tem chance de vencer pela primeira vez. A neutralidade nos deixa numa posição de equilíbrio e respeito. A presidente Dilma é do Rio Grande, como mulher, a respeito muito. A nossa decisão será cobrada pela sociedade - disse Ana Amélia, candidata ao governo gaúcho.
A neutralidade é apoiada pelo senador Francisco Dornelles (RJ). Aqueles que defendem apoio a Dilma vêm sendo vaiados, como Ivo Cassol.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse que se apresentou como candidato do partido e fez várias criticas a Dilma.
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