• Caso partido se alie ao PT, presidente terá cerca de 45% do tempo na propaganda eleitoral no rádio e na televisão
Andréia Sadi, Natuza Nery, Valdo Cruz, Ranier Bragon, Tai Nalon e Flávia Foreque – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Para não perder mais tempo de TV no horário eleitoral depois da traição do PTB, Dilma Rousseff fez uma das maiores concessões a um aliado desde que assumiu o governo: trocou o comando de duas pastas bem avaliadas por ela para contemplar o PR, sigla habituada a traições à presidente no Congresso.
Os ministérios dos Transportes e de Portos, duas áreas cruciais para tocar os projetos de infraestrutura, entraram na partilha, algo que Dilma, por convicção, se recusava a fazer até dias atrás.
A petista já havia conseguido o apoio oficial das convenções do PMDB, PDT e Pros. Nesta quarta-feira (25), ganhou o do PSD e do PP. E acredita ter amarrado o do PR, que, juntamente com PC do B e PRB, definem a linha de frente da coligação oficial até segunda, data final das convenções partidárias.
Dilma tirou César Borges (PR-BA) dos Transportes depois de passar os últimos meses afirmando que não mexeria no ministro por considerá-lo um excelente auxiliar.
A saída do ministro foi considerada um "retrocesso" pelo setor privado, diante da avaliação de que ele arrumou a casa e colocou as concessões para andar. Como prêmio de consolação, Borges foi transferido para a Secretaria de Portos, comandada por Antônio Henrique Silveira, técnico elogiado pela própria chefe e que foi deslocado para a secretaria-executiva.
Paulo Sérgio Passos, que antecedeu Borges nos Transportes por cobrança do próprio PR, retoma o cargo ministerial por ser visto pela própria sigla como um partidário "menos pior" que o sucessor no quesito "atendimento à base parlamentar".
Com isso, a coligação de Dilma caminha para ter cerca de 45% na fatia do tempo para propaganda eleitoral, principal instrumento das campanhas políticas. Projeta-se que ela tenha 11min25s em cada bloco de 25 minutos.
A decisão de ceder às pressões do PR ocorre após o PTB deixar a base governista para apoiar Aécio Neves (PSDB).
Segundo a Folha apurou, ambas as decisões passaram por políticos que estão presos. No caso do PR, a ordem de demitir César Borges contou com aval de Valdemar Costa Neto, preso no Complexo Penitenciário da Papuda devido à condenação no processo do mensalão.
Segundo petistas, Costa Neto transmitiu a mensagem de que o Planalto poderia nomear "qualquer um'', mas que tirasse Borges. Na avaliação da cúpula do PR, Borges não atendia parlamentares nem recebia seus partidários.
Já no PTB, o desembarque da base dilmista recebeu a bênção de Roberto Jefferson, preso no Rio em decorrência da ação do mensalão.
Nas duas convenções de ontem, Dilma foi apenas à do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. Em seu discurso, a petista criticou aliados de ocasião e elogiou muito a lealdade e a "palavra dada e empenhada" de Kassab, que liderou a confirmação do apoio apesar de ter negociado nos bastidores com tucanos.
"Tem uma espécie de esperteza que tem vida curta", criticou, num recado ao PTB.
A outra convenção, a do PP, terminou em polêmica --a decisão de apoiar Dilma, definida pela executiva partidária, é contestada na Justiça. Assim como no caso do PR, Dilma cedeu a PP e PSD. No primeiro caso, entregou ao partido cargos de direção em estatais.
No segundo, assegurou que o partido, o terceiro em peso político na coligação, terá seu espaço bem ampliado em eventual segundo mandato. Hoje a legenda de Kassab tem apenas a Secretaria da Micro e Pequena Empresa.
Ou nem isso, segundo aliados do ex-prefeito. "Não temos papel nenhum no governo. O ministro [Guilherme] Afif é escolha pessoal da Dilma. Agora, uma vez participando do processo eleitoral, é natural que o partido participe e tenha seu espaço no governo", diz o deputado federal Guilherme Campos (PSD-SP).
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