- O Tempo (MG)
Cinquenta e cinco por cento (55%) do eleitorado, de acordo com pesquisa do Ibope divulgada em 19 de junho de 2014, não está interessado ou está pouco interessado nas eleições de outubro próximo. É um número alto, já que apenas 16% dos entrevistados se disseram muito interessados.
A preocupação com o tema aumenta quando vemos que somente 25% dos jovens com 16 e 17 anos, segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral, tiraram título de eleitor. O número de jovens que se cadastram como eleitores vem caindo a cada ano, pelo menos desde 2006.
Tal resultado provoca algumas reflexões. A primeira delas na direção de tentar entender por que a maioria da população não quer saber das eleições. Pontualmente, devemos considerar que o fim da Copa do Mundo e o início da propaganda eleitoral, em 19 de agosto, devem provocar maior interesse pelo processo.
Assim, mesmo com a ampla cobertura midiática de questões políticas importantes, a pesquisa evidencia que a maior parte da população não entende o processo como essencial. Como se a política fosse algo desconectado de suas vidas, como se a solução de seus problemas não passasse pelo processo político. E isso é gravíssimo.
O pior é ver o desinteresse dos jovens, que preferem não exercer seu direito de votar. Tal gesto mostra sua reprovação à política. Na reportagem do jornal O Globo que trata do assunto, publicada em 20 de junho de 2014, alguns justificam dizendo que não acreditam em candidatos que não venham do povo e, também, que não confiam em ninguém. Daí não quererem tirar o título de eleitor.
O desinteresse é "primo-irmão" da reprovação, que, atualmente, é uma tendência global. Políticos e política no mundo inteiro estão sendo mal avaliados. As razões podem ser estruturais (faltam informação, transparência, exemplos) e conjunturais (economia, inflação, emprego, escândalos, desconfiança etc). Independentemente dos motivos, as pesquisas em diversos países apontam: a política e os políticos estão sendo malvistos.
No levantamento do Ibope, chama a atenção o aumento da rejeição a todos os candidatos à Presidência. A taxa de rejeição à presidente Dilma Rousseff (PT) subiu de 38% (4 a 7 de junho) para 43% (13 a 15 de junho). Já a do
pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, aumentou de 18% para 32%. E a do pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, foi de 13% para 33%.
O que significa tudo isso? O primeiro ponto é que o aumento do desinteresse pelas eleições e da reprovação à política é uma ameaça à democracia. Assim, o prenúncio de um grave questionamento vem à tona. Qual o risco? Muitos. Basta examinar a história.
O processo democrático não é inexorável, apesar dos avanços da democracia no planeta. Quando vemos vândalos destruindo carros e agências bancárias sob o olhar bovino e complacente da sociedade e das autoridades, temos certeza de que as franquias democráticas estão sendo forçadas por indivíduos que defendem soluções não democráticas. O nazismo começou assim.
Sem cuidado, interesse e participação dentro do marco democrático não há garantia de que a evolução da política prosseguirá de forma clara. E, ainda, que regimes democráticos não venham a ser diretamente ameaçados por surtos autoritários. Mesmo que tais ameaças estejam disfarçadas e sejam parasitas do próprio regime democrático, como as que vemos hoje no Brasil.
Murillo de Aragão é cientista político.
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