• Dilma volta a trocar farpas com deputado
Apesar das denúncias de que mantém contas na Suíça não declaradas e de seu envolvimento nos escândalos apurados na Lava- Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se reuniu com ministros e deputados governistas, que tentam retomar a votação do ajuste fiscal e conter a troca de farpas entre ele e a presidente Dilma — que continuou ontem. Dividida e num ato esvaziado, a oposição pediu o afastamento de Cunha da presidência da Câmara.
Governo tenta paz com Cunha para votar ajuste
• Aliados dizem que é hora de ‘agregar’; oposição se divide sobre afastamento do presidente da Câmara
Júnia Gama e Maria Lima - O Globo
- BRASÍLIA- Tanto líderes da base aliada quanto ministros do governo entraram ontem em campo para tentar colocar panos quentes na troca de farpas entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Sem cobrar qualquer explicação a respeito da existência de contas secretas na Suíça para receber propina, alguns líderes da base aliada mais próximos a Cunha pressionaram ontem o presidente da Câmara para que seja estabelecida uma agenda positiva com o destravamento das matérias do ajuste fiscal.
A oposição, por sua vez, rachou sobre uma condenação mais enfática a Cunha, e em ato esvaziado expôs a fraca adesão ao afastamento do presidente da Câmara.
Em almoço na residência oficial de Cunha, os líderes da base aliada fizeram um apelo para que sejam evitados mais atritos com o governo. Segundo relatos, o peemedebista estava com um ânimo “menos incendiário” em relação ao governo desta vez. Do outro lado, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, procurou o presidente da Câmara para tentar apagar o incêndio provocado pela declaração de Dilma lamentando que as acusações de corrupção que atingem Cunha envolvessem “um brasileiro”. Coube a Wagner também ligar para Dilma e pedir para ela cessar o duelo verbal com Cunha. Os articuladores dizem que a hora é de agregar.
Ontem, em Helsinque, a presidente foi questionada sobre o contra- ataque de Cunha, que lamentou que o governo esteja envolvido no “maior escândalo de corrupção do mundo”. Dilma disse que não iria comentar as palavras do presidente da Câmara e afirmou apenas que seu governo “não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção”.
— Não é meu governo que está sendo acusado — acrescentou a presidente.
Questionada se a Petrobras não era seu governo, completou:
— Não é a empresa Petrobras que está envolvida em escândalo. São as pessoas que praticaram corrupção e estão presas — afirmou.
Diante da declaração da presidente, Cunha foi irônico:
— Não sabia que a Petrobras não era do governo.
Em reunião na noite de segundafeira, ministros da articulação política e líderes do governo no Congresso concluíram que é preciso vigiar Dilma para que o cenário não se complique mais com esse tipo de “hostilidades”. Um levantamento passado por parlamentares petistas mostrou que Cunha deve enterrar o processo de cassação de seu mandato no Conselho de Ética por 11 votos a favor e nove contra. Além da derrota prevista no Conselho de Ética, o núcleo de articulação política do governo acha muito difícil um recurso ao plenário, onde Cunha controla a pauta e “tem mil instrumentos” para se manter no cargo indefinidamente.
— O momento agora é de temperança e diálogo. Não é hora de enfrentamentos nem de criar arestas. Esse tipo de declaração só cria dificuldades, não ajuda em nada. Temos um cenário muito ruim, e ainda hostiliza? — criticou o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral ( PT- MS).
Os ministros e petistas avaliam também que o conflito pode reacender o debate sobre o pedido de impeachment da presidente. Deputados da base, por sua vez, estão atuando como “bombeiros”, a pedido do Planalto, para evitar que a crise política e as reações de Cunha às denúncias de corrupção paralisem a tramitação de matérias importantes para a recuperação da economia. No almoço com Cunha ontem, o recado dos líderes foi claro no sentido de que não querem a continuidade de uma agenda de confronto com o governo. Cunha, por sua vez, afirmou que não travará as votações e também demonstrou irritação com a oposição, que pouco depois fez novo pronunciamento sobre sua situação.
Apenas os líderes do DEM, Mendonça Filho ( PE), do PPS, Rubens Bueno ( PR), e da minoria, Bruno Araújo ( PSDBPE), pronunciaram- se contra Cunha. O líder do PSDB, Carlos Sampaio ( SP), e o líder do Solidariedade, Arthur Maia ( BA), não compareceram ao ato. De olho em viabilizar um processo de impeachment contra Dilma, quase a metade dos deputados do PSDB defendia que não houvesse nova manifestação sobre Cunha.
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