O relatório apresentado, após quase oito meses de trabalho, pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na Câmara dos Deputados para investigar o escândalo da Petrobrás, o petista Luiz Sérgio (RJ), é um escandaloso e desavergonhado atestado da falência moral que compromete a imagem daquela Casa do Congresso Nacional. Trata-se de um documento que contraria evidências e se refugia na pura e cínica chicana para cumprir os desígnios que foram impostos a seu autor não pela condição de representante do povo, mas de advogado de defesa do PT e dos políticos envolvidos em denúncias de corrupção, muitos deles já expiando suas culpas atrás das grades.
O autor da desfaçatez, não satisfeito em se valer da condição de relator para sair em defesa de quem, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem contas a acertar com a Justiça, esmerou-se também em fazer o papel de acusador – pasmem os leitores – da Operação Lava Jato, imputando-lhe “excesso de delações premiadas”. Além disso, atribuiu toda a responsabilidade pela corrupção reinante na estatal petroleira a um “cartel de empreiteiras” acumpliciado com funcionários e ex-funcionários da empresa. As dezenas de parlamentares investigados e denunciados na Lava Jato foram poupados pelo relator petista sob o argumento hipócrita de que a CPI “não é Conselho de Ética”.
O mau exemplo do deputado fluminense não deve levar os brasileiros a acreditar que a representação popular como um todo está em mãos carentes de discernimento e escrúpulos. Na verdade, são apenas alguns representantes que se sentem à vontade para insultar os brasileiros que, atingidos em seu brio, se sentem órfãos do poder político, que, numa sociedade democrática, exercido em nome de todos os cidadãos, é o único legítimo e capaz de corrigir equívocos e definir rumos na perseguição do bem comum. Atuações como a do petista Luiz Sérgio avalizam as afirmações de Lula da Silva sobre o Parlamento brasileiro estar nas mãos de picaretas. Mas essa é uma falsa impressão, pois há gente correta e honesta no Congresso.
O problema é que cargos de responsabilidade ficam com quem não a tem. O petista Luiz Sérgio, por exemplo, como não tinha compromisso com a apuração real dos problemas da Petrobrás, tomou a iniciativa de fazer uma defesa preventiva até de quem não é – pelo menos por enquanto – acusado de nada. O relatório chama a atenção para “um fato que tem passado despercebido da população: não há menção dos delatores sobre envolvimento dos ex-presidentes da Petrobrás”, como também “não há nos autos da CPI qualquer evidência neste sentido, seja em relação à presidente Dilma ou ao ex-presidente Lula”. Missão cumprida.
A farsa grotesca da CPI demonstra que há dois modos de desservir a moralidade e a transparência no trato da coisa pública: por ação ou por omissão. No primeiro caso, o protagonismo é do lulopetismo e de seus “aliados” da alta picaretagem brasiliense: não perdem oportunidade de desmoralizar as instituições. No segundo caso, o da omissão, brilha a inextricável oposição partidária. Com o Brasil mergulhado na mais grave crise política, econômica e moral da História recente, os partidos da oposição, à frente a maioria dos tucanos, só pensam e atuam em função da construção de atalhos para chegarem ao poder, sem se importar em saber se restará alguma coisa para ser governada quando e se conseguirem chegar lá.
No momento em que um pau-mandado petista enterra a CPI da Petrobrás sob um aviltante relatório-sob-encomenda, os oposicionistas apressam-se em anunciar que, “brevemente”, se manifestarão sobre o assunto, provavelmente apresentando um relatório paralelo. Vai depender, com toda certeza, de quanto tempo levarão para concluir até onde poderão ir sem ferir as suscetibilidades do poderoso Eduardo Cunha, o homem que no momento oscila entre abrir o processo de impeachment de Dilma Rousseff e barrar o processo de seu próprio julgamento por crime de corrupção.
O PT é acusado, por tudo o que tem feito depois da eleição de Lula, de ter trocado um projeto de governo por um projeto de poder. Fez tudo errado e hoje o País inteiro sabe disso. E a oposição? Faz o quê? Nada, e o País inteiro também sabe disso.
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