• Nenhum grande partido questionou o deputado durante a primeira sessão após divulgação de papéis que comprometem o presidente da Câmara dos Deputados
Ranier Bragon, Débora Álvares, Catia Seabra, Marina Dias e Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Mesmo após virem à tona documentos ligando o nome de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a contas secretas no exterior, líderes das principais bancadas de oposição e do governo continuaram nos bastidores dando suporte político para que o presidente da Câmara permaneça no cargo.
Na primeira sessão após a publicação de documentos que comprometem o peemedebista, nenhum integrante dos grandes partidos questionou Cunha no plenário.
A oposição reiterou o pedido de afastamento do presidente da Câmara, mas novamente após combinação prévia com o próprio. O cuidado dos oposicionistas tem o objetivo de manter o apoio do peemedebista a um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Os líderes da bancada do DEM, Mendonça Filho (PE), e do PPS, Rubens Bueno (PR), e da da oposição, Bruno Araújo (PE), chamaram uma entrevista na mesma hora em que a maioria dos deputados estava no plenário.
Ali afirmaram considerar "gravíssimas" as acusações contra Cunha e que irão defender "com muita ênfase" o afastamento dele do comando da Casa. Mas, no plenário, a oposição adotou o silêncio. Bueno chegou a ir à tribuna criticar Dilma pelo petrolão e pela "pizza" na CPI da Petrobras, mas não disse uma palavra sobre Cunha, que presidia normalmente a sessão.
"Impressiona como ele está sendo sustentado pelo silêncio dos líderes. É a casa do cinismo, da hipocrisia, da meia-verdade", disse o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ).
Nesta quarta (21) os partidos de oposição apresentam um novo pedido de impeachment com documentos que tentam provar que a petista continuou neste ano a cometer irregularidades fiscais que levaram o TCU (Tribunal de Contas da União) a aprovar a recomendação da rejeição de suas contas de 2014.
Faz parte desse entendimento entre Cunha e a oposição uma tentativa de anular a decisão de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que barrou o rito do impeachment proposto pela Câmara.
Cunha disse a aliados que se não houver manifestação do STF até o dia 15 de novembro sobre recurso que ele fez contra liminares de Teori Zavascki e Rosa Weber que barraram o rito, ele irá abandonar o que pretendia e voltar à "estaca zero".
Isso significa, na interpretação dos deputados, que a oposição poderá recorrer ao plenário de eventual decisão de Cunha rejeitando os pedidos de impeachment, o que havia sido barrado pelo STF.
O assunto voltaria a ser analisado pelo tribunal, mas a expectativa de aliados de Cunha é que o caso seja distribuído para outros ministros.
Governistas
Assim como a oposição, governistas também evitaram confrontar Cunha.
Vários líderes aceitaram convite do deputado para almoçar em sua casa e debater a pauta legislativa e, segundo relatos, não houve nenhum questionamento sobre as denúncias.
No governo, ministros trabalham para "baixar a temperatura" nas relações com Cunha. Até o vice-presidente, Michel Temer, o recebeu na noite da segunda (19) para uma conversa em que o vice sondou o aliado sobre uma possível abertura de processo de impeachment.
Outro ministro que trabalha por uma reaproximação é Jaques Wagner (Casa Civil).
No domingo (18), por exemplo, irritado com o tom adotado pela presidente em declarações durante sua viagem a Suécia, Cunha telefonou para Wagner e mostrou insatisfação com os sinais trocados do governo. Enquanto ministros e governistas tentam uma aproximação, Dilma o ataca em discursos públicos.
Wagner tentou colocar panos quentes e a presidente foi orientada a adotar um tom "mais institucional" ao falar do peemedebista.
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