- O Globo
O Copom está reunido diante de um cenário em que a inflação permanece perto de 10%, e as projeções para o ano que vem estão sendo revistas para cima. O remédio contra a inflação seria elevar os juros, mas isso aprofundaria a recessão e o desequilíbrio fiscal. Por isso o Banco Central nada fará. A grande dúvida é se o BC vai adiar a promessa de chegar ao centro da meta. Era para o final de 2016, deve ficar para 2017.
Aexpectativa é que a taxa de juros ficará onde está, em 14,25%. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas divulgou a segunda prévia do IGP- M de outubro, e foi de 1,86%, levando a inflação em 12 meses a 10,06%. Hoje será divulgado o IPCA- 15. O Itaú está prevendo 0,68%, o que levaria a inflação em 12 meses para 9,79%. Não há dúvida que a taxa está em torno do temido número 10%.
O BC age olhando para frente, mas neste ponto também há problemas. A previsão de inflação do ano que vem está menor do que a deste ano, mas os departamentos econômicos dos bancos e as consultorias têm semanalmente aumentado a projeção porque há várias pressões novas sobre o índice. Um deles é o dólar, e por isso o IGP- M subiu tanto: os índices da FGV são mais sensíveis ao câmbio por terem os preços por atacado em sua composição.
A energia não repetirá em 2016 o tarifaço de 2015, porém há várias pressões remanescentes da crise detonada pela intervenção do governo Dilma no setor. As geradoras estatais de energia são as que mais reclamam e pedem correção. Todo imposto é inflacionário, mas a Cide, que o Congresso pensa em aumentar, tem efeito instantâneo nos índices de preços. Tudo isso manterá a inflação pressionada no ano que vem.
O país está em uma recessão forte e por isso o Banco Central não pode elevar mais os juros. Está sem instrumentos de política monetária para lutar contra a alta dos preços. Além disso, o aumento dos juros agravaria ainda mais o buraco nas contas públicas. Novos problemas surgem diariamente na área fiscal. A última é a de pagamentos das pedaladas, que abrirá mais ainda o rombo nas contas públicas. Têm que ser pagas, mas a piora nos indicadores fiscais aumenta o dilema do Banco Central. Ele não pode usar as armas que tem contra a inflação.
O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/ FGV, chama atenção para o aumento das expectativas de inflação por parte dos consumidores. Em suas sondagens, o Ibre pergunta aos entrevistados o que eles acham que vai acontecer com os preços. O sentimento captado pela pesquisa é que haverá alta de 10% nos próximos 12 meses, indicando que o pessimismo em relação à inflação é maior na população em geral do que entre os economistas de mercado.
— A expectativa por parte dos consumidores carrega bastante o sentimento do momento, que é de uma inflação em torno de 10%. Ele projeta para o futuro o que acontece agora. Ao mesmo tempo, tem o efeito negativo da alta do dólar — explicou José Júlio Senna.
O economista, que já foi diretor do Banco Central, acredita que o combate à inflação está cada vez mais dependente da política fiscal. A elevação dos juros, neste momento, vai agravar o rombo das contas públicas e elevar a percepção de risco sobre o país. Com esse efeito, o dólar subiria e pressionaria a inflação. Esse é o cenário que os economistas chamam de “dominância fiscal”, que tem sido cada vez mais discutido. Ou seja, elevar juros, ao invés de ajudar no combate à inflação, pode fazer o efeito inverso ao desejado.
Para não correr riscos de piorar o que já está ruim, o BC ficará no mesmo lugar, apenas alterando o ano em que a instituição promete chegar ao centro da meta. Desde o início do governo Dilma essa data tem sido prorrogada sucessivamente. Será uma nova prorrogação.
O ministro Nelson Barbosa pede para corrigir a informação publicada ontem de que no fim de semana ele foi ao PT e se encontrou com Rui Falcão. Informa, através da assessoria, que no sábado foi à Fundação Getúlio Vargas e que no domingo trabalhou no Ministério do Planejamento. Já na segunda- feira, o ministro foi ao Instituto Lula, onde estava Rui Falcão.
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