- O Estado de S. Paulo
Dilma Rousseff deu asas a uma parceria que, infelizmente, tem se propagado pelo mundo
Nos últimos dez meses, sem Dilma Rousseff na Presidência da República, a inflação anual medida pelo IPCA despencou de 9,27% para 4,75% e a taxa de juros Selic caiu de 14,15% para 12,15%. Nesse período, a queda dos dois indicadores se deu gradativamente, sem nenhuma alquimia, pirotecnia ou oscilações bruscas, simplesmente refletindo o ambiente econômico do momento e projeções confiáveis para o futuro. Com a inflação em queda, analistas já projetam um corte na taxa de juros para 11,25% em abril e para um dígito até o fim do ano.
Mas houve uma época, na gestão Dilma, em que a taxa Selic sofreu queda vertical: em apenas um ano, entre junho de 2012 e de 2013, desabou de 10,79% para apenas 7,5% – a mais baixa em 20, 30, 40 anos, talvez da História. Motivo de comemoração? Seria, não fosse o artificialismo impregnado na queda, a mão grande e visível da presidente Dilma sobre o enfraquecido e subserviente Banco Central (BC); não fosse, também, a desconfiança dos agentes econômicos, que constroem o dia a dia desses indicadores, de que a taxa era de mentirinha, teria vida curta e não se sustentaria.
Como, de fato, não se sustentou e foi subindo, subindo até chegar a 14,15% ao ano, quando Dilma deixou o governo. Motivos para desconfiar não faltavam: afinal, no período analisado (junho de 2012/2013), enquanto a Selic caiu 3,29 pontos porcentuais, a inflação saltou de 4,91% para 6,7%. Espantosa inovação introduzida por Dilma, com a cumplicidade de um BC fraco: no mundo inteiro, se a inflação sobe, a taxa de juros também sobe, nunca o contrário. Tal grau de artificialismo não encontrou apoio nas leis do mercado, nos fundamentos econômicos. Por isso a Selic de 7,5% não sobreviveu e sucumbiu.
O que movia a ex-presidente era o desejo de mostrar ao País seu poder de desafiar seculares ensinamentos da ciência econômica e trazer os juros para uma taxa capaz de impactar positivamente a população e canalizar os dividendos políticos para ela própria e os candidatos do PT na eleição que se aproximava. Nessa mesma época (em janeiro de 2013) e com o mesmo objetivo, ela baixou na marra a tarifa de energia elétrica, ignorando as consequências de tamanho desatino. A conta da aventura política não demorou a chegar: nos anos seguintes a população foi obrigada a pagar gigantes tarifaços que anularam o desconto e, ainda, obrigada a bancar o custo de prejuízos que minavam as estatais elétricas, destruídas e endividadas. Até hoje a Eletrobrás não se recuperou.
Dilma dava asas a uma parceria que, infelizmente, tem se propagado pelo mundo, ganhou espaço em países da América Latina e, agora, se estende pelos EUA e pela Europa. Trata-se do poder intervencionista de um “salvador da pátria” a serviço de um populismo político que desafia regras e instituições da democracia. É o presidente Donald Trump assinando decreto proibindo a entrada de imigrantes islâmicos nos EUA ou tirando do orçamento dinheiro da saúde para alocar na construção de um muro na fronteira com o México. São movimentos separatistas na Inglaterra, Holanda, França, que lembram o nazismo.
O intervencionismo populista, de direita ou de esquerda, tem forte componente ideológico de centralização do poder. O ideal mais prazeroso do populista é mostrar ao país que uma só canetada é capaz de mudar radicalmente seu destino. Dilma restringiu seu poder intervencionista à economia, mas de olho nos resultados políticos populistas. Seu amigo venezuelano Nicolás Maduro foi além: quer proibir a atuação da oposição e, na economia, mergulhou a Venezuela num precipício que vai marcar seu fim (hiperinflação de 2.200%, desemprego de 20%, PIB encolhendo 8%, fome, dinheiro escasso, fuga da população para países vizinhos em busca de comida). É assim que morrem os populistas.
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