Por solicitação da defesa, ex-diretor da Petrobras será ouvido por Moro
Thiago Herdy | O Globo
-SÃO PAULO- Indicado pelo PT ao cargo, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque decidiu quebrar o silêncio e confirmar, na próxima sexta-feira, em depoimento ao juiz da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, Sergio Moro, ter participado da negociação de percentual entre 0,9% e 1% de propina ao partido nos contratos da Sete Brasil com o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, do qual fazia parte a Odebrecht.
A Sete Brasil é uma empresa constituída pela Petrobras, fundos de pensão e bancos privados para cuidar dos contratos do pré-sal.
Preso desde março de 2015 e condenado em quatro ações a penas que somam 57 anos e sete meses de prisão, Duque manteve-se calado em depoimentos à Justiça e optou por mudar de estratégia depois de fracassadas tentativas de celebrar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). O responsável por sua defesa é o advogado Antonio Figueiredo Basto, o mesmo que cuidou da delação do doleiro Alberto Youssef.
“Se em tal depoimento ele colaborará ou não com a elucidação dos fatos, é algo que só pode ser analisado a posteriori, bem como eventuais benefícios decorrentes de uma eventual colaboração sem acordo prévio. Em nenhuma hipótese, isso significa que o julgador está celebrando um acordo de colaboração. De qualquer modo, inviável obstar o requerimento do acusado que pretende novamente ser interrogado, sob pena de violação da ampla defesa”, escreveu Moro ao deferir pedido de Figueiredo Basto para que Duque fosse ouvido novamente em juízo.
De acordo com o MPF, seis contratos de afretamento de sondas negociadas pela Sete Brasil com o Enseada do Paraguaçu somaram R$ 28 bilhões. Eles teriam sido obtidos por influência de Antonio Palocci, também denunciado no processo, que nega a acusação.
O pagamento de propina entre 0,9% e 1% dos contratos para o PT foi revelado pelo ex-gerente da companhia Pedro Barusco, que mencionou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari como o responsável por recolher valores para o partido. Segundo Barusco, um terço deveria ser divido entre funcionários da estatal e dois terços entregues a Vaccari.
Em depoimento à Lava-Jato, três delatores da Odebrecht atribuíram a Palocci a definição do percentual de 1% de propina nos contratos da Sete Brasil. Segundo eles, no entanto, os valores não teriam sido pagos como solicitado — a empreiteira preferia manter uma “conta corrente” com valores à disposição do partido, em vez de negociar cada contrato.
Em vídeo, Rogério Araújo, ex-funcionário da empreiteira, disse ter ouvido de Barusco que o ex-presidente Lula teria participado da decisão sobre a divisão de percentual de propina, o que também pode ser objeto do depoimento de Duque. A defesa de Lula “nega veementemente" envolvimento dele no esquema.
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