Por Claudia Safatle | Valor Econômico
BRASÍLIA - O governo decidiu retomar o processo de desinflação e o Conselho Monetário Nacional vai, na reunião do dia 29, reduzir a meta de inflação de 2019 para 4,25%. Apesar da crise política e das incertezas que ela produz na economia, há bons argumentos para sustentar a decisão, que afetará o próximo governo. As expectativas do mercado, segundo a pesquisa Focus, já estão ancoradas em 4,25% para 2019, 2020 e 2021. Abaixo, portanto, da meta de 4,5% que vigora desde 2005. Outra razão, não menos importante, é que a decisão sobre a meta para daqui a dois anos decorre de uma visão estrutural e guarda pouca relação com as atuais turbulências.
Há, também, uma discussão mais conjuntural entre os economistas do governo e do setor privado, sobre se os efeitos da instabilidade política serão inflacionários ou desinflacionários. Pela ótica da fraca atividade econômica, a tendência seria desinflacionária. Mais incertezas, no entanto, trazem impactos sobre a formação de preços, sobre os repasses das desvalorizações cambiais e sobre o quanto as dificuldades do governo inviabilizam a aprovação das reformas e comprometem a queda da taxa de juros estrutural. Esse debate estará na origem da decisão sobre o corte da taxa Selic que o Copom definirá nos dias 25 e 26 de julho.
"Não há nada escrito nas estrelas", comentou uma autoridade do governo. As incertezas decorrentes da crise política não alteraram em praticamente nada as expectativas de inflação para este ano e 2018. "Se a situação for desinflacionária, o Banco Central tomará atitude e se for inflacionária, também", disse a fonte.
O atual comando do BC advoga a transparência. Se em abril ele deixou claro que se sentia mais confortável, com a inflação em queda e a atividade econômica fraca, para discutir a aceleração na redução dos juros, quando a situação política se deteriorou e trouxe incertezas ele também teria que comunicar a mudança. Foi o que fez na ata da reunião de maio.
Hoje, a avaliação está novamente se alterando: "Parece que estamos retornando ao período anterior ao choque político", comentou a fonte.
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