Por Andrea Jubé e Cristiane Bonfanti | Valor Econômico
BRASÍLIA - Na corrida pré-eleitoral, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), do DEM, larga com vantagem sobre outros concorrentes ao contar com aliados próximos no comando de dois ministérios estratégicos: Educação e Cidades. Além da capilaridade, com ações extensivas a quase todos os municípios do país, as duas pastas estão entre os maiores orçamentos da Esplanada.
Juntos, os dois ministérios somam R$ 118 bilhões destinados a programas de apelo popular, como educação básica e casas populares, além de emendas parlamentares. Maia já começou a participar de agendas públicas de ambas as pastas e vai percorrer vários Estados - inclusive sua base eleitoral, o Rio de Janeiro - de "carona" com os ministros aliados.
O exemplo mais evidente dessa estratégia ocorreu no dia 11, quando Maia participou de uma agenda pública em Vitória, no Espírito Santos, com os ministros da Educação, Mendonça Filho, seu correligionário do DEM, e das Cidades, Alexandre Baldy, que deve se filiar ao PP em março. Ambos são considerados de sua cota pessoal na Esplanada, embora a indicação de Baldy resulte de um "consórcio" entre Maia e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Na capital capixaba, Maia subiu ao palanque com o governador Paulo Hartung, filiado ao MDB, mas que mantém conversas para migrar para o DEM. Foi um ato de assinatura de convênios dos dois ministérios com o Estado, em que foram anunciadas a liberação de R$ 36,4 milhões em recursos federais para ações de educação integral e formação de professores, e mais R$ 63,5 milhões para obras de saneamento e um contrato de financiamento com a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan).
A aliança estratégica com esses ministérios proporciona a Maia uma "agenda social" que lhe permite descolar da pauta da Câmara dos Deputados, ultimamente contaminada por dois temas negativos: as denúncias contra o presidente Michel Temer e a reforma da Previdência.
Também possibilita a Maia fazer um contraponto à retórica econômica, à qual o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD) - com quem disputa a vaga de presidenciável no campo do centro -, acaba atrelado na maior parte do tempo.
Uma fonte do primeiro escalão do governo disse ao Valor que acompanhar as agendas dos ministros é prerrogativa de Maia. "Ele é um ator importante da agenda de governo porque toca as reformas na Câmara, então a pauta da administração pública também é dele", ponderou. "Se os aliados têm de amargar o lado ruim do governo, também têm o direito de aproveitar o lado bom", como anunciar as ações positivas, acrescentou a mesma fonte.
Além do evento em Vitória, Maia participou de outras agendas ligadas às duas pastas nas últimas semanas. No dia 28 de dezembro, foi à inauguração de uma creche em Salvador ao lado do prefeito da capital baiana, ACM Neto, que é pré-candidato ao governo e integra a executiva do DEM.
Os recursos para a creche saíram do Ministério da Educação. No final de setembro, o ministro Mendonça Filho assinou autorização para a construção de nove creches em Salvador, totalizando investimentos de R$ 44,2 milhões, via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O Rio de Janeiro, base eleitoral de Rodrigo Maia, também tem lugar na estratégia pré-eleitoral da "carona" nos ministérios. Se o presidente da Câmara não se cacifar para a disputa sucessória, volta-se ao projeto de reeleição, com objetivo de ser reconduzido ao comando do Legislativo.
Com esse foco, Maia tem acompanhado agendas do ministro Alexandre Baldy no Rio de Janeiro. No último dia 26, eles visitaram um condomínio do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) em Nova Iguaçu, região da Baixada Fluminense. A obra residencial está paralisada e Baldy anunciou um projeto piloto da pasta para recuperar o empreendimento.
Já na última semana, Baldy reuniu-se com Maia e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), para tratar da retomada de outra obra do MCMV paralisada no Estado, esta no município de Itaboraí, com 12 mil moradores.
Maia tenta se viabilizar como um nome "independente" do governo federal, que apoia a agenda de reformas. O instituto Datafolha incluiu o nome de Maia pela primeira vez na pesquisa divulgada no início de outubro e o Ibope vai acrescentá-lo na próxima sondagem.
Num cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Maia aparece com 1% de intenção de votos, atrás de Meirelles, com 2%, segundo o Datafolha. Ele é conhecido de 49% da população, mas é rejeitado por 30%.
Os dois ministros aliados comandam pastas com capilaridade em quase todos os municípios brasileiros e orçamentos bilionários, inclusive para o pagamento de emendas parlamentares.
Com a terceira maior dotação da Esplanada, o Ministério da Educação tem orçamento de R$ 107,545 bilhões para este ano. Em emendas individuais, a serem liberadas para deputados e senadores, foi fixada uma despesa de R$ 360,585 milhões. Já o Ministério das Cidades tem orçamento de R$ 11,143 bilhões, R$ 1,125 bilhão para emendas e R$ 4,016 bilhões para o MCMV.
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