- O Globo, 14/1/2018
Nas eleições de 2018, estaremos fazendo escolhas importantes
2018 — o ano da incerteza. Temos tido o privilégio de ler vários magníficos comentários a respeito na coluna do Ancelmo. Muito relevantes porque, para o Brasil, 2018 é também o ano da encruzilhada. De três encruzilhadas.
Santo Agostinho disse que há três tempos: o tempo presente das coisas passadas, o tempo presente das coisas presentes e o tempo presente das coisas futuras. Nas eleições de 2018, estaremos fazendo escolhas importantes sobre esses três tempos.
O tempo presente das coisas passadas diz respeito às correntes mais profundas do oceano chamado Brasil. O sucesso da operação Lava-Jato não deve ser medido por quantos vão presos ou quanto dinheiro se recupera para os cofres públicos, por mais que a quebra da impunidade dos poderosos seja um momento histórico relevante.
O sucesso da Lava-Jato deve ser medido por quanto o capitalismo de Estado e compadrio — que foi exposto à luz do sol e hoje é reconhecido pela maioria esmagadora dos brasileiros — vai começar a ser transformado. Conseguiremos avançar na direção de uma sociedade mais aberta e menos desigual não só em renda mas também em oportunidades e direitos? Ou, após as turbulências, voltaremos a tudo como dantes no quartel de Abrantes? As eleições não decidem esse destino, mas serão fundamentais.
O tempo presente das coisas presentes diz respeito, acima de tudo, a reverter a trajetória de insolvência da dívida pública, acertar as contas fiscais e retomar um caminho de respeito aos contratos, segurança jurídica e regulação transparente dos mercados. Disso dependerá o bem-estar dos brasileiros na próxima década e, nesse caso, as eleições são decisivas.
O tempo presente das coisas futuras é o menos discutido nessa barafunda de ausência de ideias, ou de argumentos desconexos, em que estamos metidos. Não estamos em um tempo global qualquer. Estamos nas vésperas de mudanças profundamente revolucionárias na economia, sociabilidade e cultura da humanidade.
No horizonte já estão a quarta revolução industrial, a economia de baixo carbono, a produção de alimentos de forma dramaticamente diferente da atual, a biologia sintética e as plataformas fundadas sobre a inteligência artificial.
E — tão importante quanto (porque é tudo uma só história) aquilo que Zygmunt Bauman denominou de interregno, o período de ausência de narrativas, após a morte daquelas que prevaleceram no século passado — começa a apresentar frestas por onde é possível vislumbrar algo das novas narrativas que orientarão o pensamento, o desejo e as emoções coletivas de uma nova etapa civilizatória da humanidade.
Como o Brasil pretende se inserir nessa nova realidade mundial em construção? Eleições importantes essas de 2018. Que Tranca-Rua da Encruzilhada ajude a abrir nossos caminhos. Menos raiva nas conversas, reflexões mais profundas, muito debate e sorte ajudam bastante.
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Sérgio Besserman Vianna é presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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