- Folha de S. Paulo
O que a ala mais radical do movimento feminista e o Escola Sem Partido têm em comum? Ambos idealizam um idílico mundo melhor e traçam o que lhes parece ser a linha mais reta entre seus objetivos e a realidade, sem se importar com mais nada.
Há decerto apelo na ideia de uma educação sem proselitismos, na qual os professores apenas informariam os alunos sobre a natureza das coisas, deixando que eles chegassem a suas próprias conclusões em relação a valores ideológicos, religiosos etc. De modo análogo, é difícil não aplaudir o projeto de uma sociedade na qual mulheres não tivessem de sujeitar-se a nenhum tipo de constrangimento, físico ou verbal.
O problema é que não dá para chegar a essas metas, no pressuposto de que elas sejam realizáveis, apenas baixando normas que proíbam os professores de agir como doutrinadores ou criando ambientes que banem cantadas e galanteios. Iniciativas assim, se implementadas ao pé da letra, inviabilizam outras liberdades importantes e também a própria comunicação entre pessoas. As fronteiras entre a explicação, que é a matéria-prima da atividade didática, e a persuasão, a ferramenta do doutrinador, são tudo menos claras.
Da mesma forma, não dá para desenvolver uma fórmula "a priori" para distinguir o convite sexual aceitável que um homem possa fazer a uma mulher de abordagens grosseiras ou mesmo agressivas.
É por isso que, na guerra das agendas feministas, fico com as francesas que defenderam que os homens sejam livres para dirigir-se às mulheres como lhes parecer melhor. Se a mulher não gostar, pode perfeitamente dizer "não" ou mesmo recorrer a figuras de linguagem mais enfáticas.
O feminismo é imprescindível até o ponto em que afirma a autonomia da mulher. Quando tenta pautar o que a mulher deve fazer, caminha, como o Escola Sem Partido, perigosamente perto do autoritarismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário