- Revista Veja
Políticos não acharam o caminho do diálogo com o eleitor
O presidente Michel Temer erra até quando acerta. Em tese, a presença de um governante em locais de tragédia para demonstrar solidariedade às vítimas é um dado positivo. Na prática, depende do governante. Se benquisto, tudo bem. Se malvisto, arrisca-se, como aconteceu com Temer na tentativa de se mostrar sensível ao incêndio e desabamento de um prédio no centro de São Paulo, de ser posto a correr da cena com um quente e dois fervendo.
Tido como bamba nas artes da política de bastidores, o presidente não entende nada de “rua”. Nunca foi a especialidade dele, conforme demonstrado por suas votações para deputado. Na última, em 2006, Temer ficou em 54º lugar entre os mais votados e só entrou na lista dos setenta eleitos na bancada paulista com ajuda dos votos de legenda para o PMDB. Isso antes de se transformar no presidente mais mal avaliado desde o advento das pesquisas de opinião.
De onde não teria sido difícil aquilatar a imprudência da visita ao desastre do edifício ocupado por sem-teto, não fosse a completa falta de conexão entre o planalto e a planície. Justiça se faça ao presidente e assessoria: não estão sozinhos nessa desconexão entre a pequenez da cabeça dos políticos e a enormidade da descrença da população.
No quesito sem noção, a turma do governo tem a companhia de Lula e do PT, tradicionalmente localizados no extremo oposto da escala de identificação popular. Tidos como bambas nas artes da política de massas, os petistas vêm errando feio desde a decisão de tocar a vida sem autocrítica, operando no modo negação, até a avaliação de que seriam acompanhados na tática do confronto por grandes mobilizações de rua em defesa do partido.
Políticos e sociedade falam idiomas completamente diferentes, desconhecidos entre si. Como se um se expressasse em javanês e o outro entendesse em norueguês. Tomemos a versão segundo a qual o eleitor anseia pelo surgimento de uma candidatura de “centro”, entendida como opção menos radical, mais “normal”, para funcionar como contraponto à polarização dos grupos mais ativos no debate político-eleitoral.
Até agora todos os nomes mais identificados com esse perfil têm sido um fiasco. O exemplo mais eloquente é Geraldo Alckmin. Não faz mal a ninguém, tampouco empolga a maioria, que espera por alguém que possa fazer o bem. Em outras palavras, “dar um jeito no Brasil”, “organizar a bagunça”, e assim por diante.
Nessa concepção é que se encaixam perfis (segundo a percepção popular) assemelhados ao de xerife, como o de Jair Bolsonaro e o de Joaquim Barbosa, que tendem a fazer sucesso junto ao público. E aqui há um traço de semelhança entre as eleições de 1989 e 2018, ambas marcadas pela indefinição, embora em contextos bem diferentes.
Naquela ocasião, entre os 22 candidatos havia muitos ligados à norma (nesse sentido que chamo de normal) da tradição, mas chegaram ao segundo turno os dois mais distantes do padrão, Lula e Collor, que viriam a demonstrar (um mais cedo que o outro) que nem sempre a excepcionalidade é a melhor qualidade quando o caso é governar uma nação.
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