Catarina Alencastro e Sérgio Roxo | O Globo
BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO / convenções partidárias, o PT e o PSB anunciaram ontem uma série de alianças regionais que praticamente sepultaram as chances de o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, conseguir um aliado de peso na corrida presidencial.
Desde que desistiu de lançar um candidato ao Palácio do Planalto, o PSB flertava com uma possível aliança tanto com petistas quanto com pedetistas. Pelo acordo firmado ontem, o PT se aliou a candidaturas socialistas em quatro estados — Pernambuco, Amapá, Amazonas e Paraíba — em troca do apoio dos socialistas em Minas Gerais e da neutralidade do PSB na corrida presidencial.
Depois de perder o apoio do centrão, Ciro apostava suas fichas em uma aliança com o PSB. Em entrevista à Globonews ontem à noite, ele atacou o PT, “que estaria ensaiando uma valsa na beira do abismo” ao insistir na pré-candidatura do ex-presidente Lula:
— A burocracia do PT não está pensando no país. Virou religião. Agora o companheiro ( João Pedro) Stédile ( líder do MST) chamou seis companheiros para fazer greve de fome. Tem romaria. Na minha opinião, isso é caudilhismo do mais barato possível.
Apesar de dizer que considera “injusta” a sentença que condenou Lula, Ciro afirmou que “(Antonio) Palocci é réu confesso e comandou a economia por oito anos”.
O presidenciável do PDT disse ainda não saber o que fez para merecer essa “hostilidade” do PT:
—Apoiei o Lula todos os dias, sem faltar nenhum, ao longo de 16 anos.
MARÍLIA PROMETE RESISTIR
Ciro reconheceu que a perda do PSB é um “revés”, mas disse que não foi comunicado oficialmente da decisão.
Sozinho, o pedetista terá que se virar dentro de seu próprio partido e se contentar com pouco mais de 40 segundos de tempo de TV.
O ponto de convergência entre petistas e socialistas foi o acordo firmado em Pernambuco, estado que vem sendo governado pelo PSB há 12 anos, e abriga o diretório mais influente da sigla.
O atual governador, Paulo Câmara( PSB), estava coma reeleição ameaçada pela candidatura de Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, um dos fundadores do PSB. Marília, vereadora pelo PT, estava tecnicamente empatada com Câmara nas pesquisas.
Mas, soba justificativa de que a “prioridade absoluta” do partido é a candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto, a direção do PT aprovou ontem, por 17 votos a 8, a retirada da candidatura de Marília e o apoio ao PSB. Em troca, o PT pediu a não candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais. Ele era uma pedra no caminho da reeleição do petista Fernando Pimentel.
O acerto costurado pelas cúpulas do PSB e do PT gerou desgastes para os dois lados. Confirmada a decisão da cúpulapetista, anetadeMiguel Arraes prometeu lutar até as “últimas instâncias” para revertera situação. Um grupo de oito dirigentes apresentou recurso para que o diretório nacional volte atrás.
— É uma candidatura da base do PT, que hoje tem o apoio massivo da sociedade de Pernambuco. Não temos o direito de recuar e colocar a esperança das pessoas em uma mesa como moeda de troca a preço de banana — afirmou Marília Arraes.
LACERDA “INDIGNADO”
Do outro lado, o presidente do PS B, Carlos Siqueira, viajou a Belo Horizonte para comunicara Márcio Lacerda o acerto. Pela negociação, Lacerda teria de ser candidato ao Senado. Ele reagiu ao acordo. “N atar dede hoje fui surpreendido pelo meu partido, o PSB, que, através do seu presidente, Carlos Siqueira, (...) veio a Belo Horizonte comunicar que a direção nacional do partido tomou a decisão política de alinhamento com o PT em Minas Gerais. Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, escreveu o mineiro, em nota .
Nas últimas semanas, o PDT vinha trabalhando para garantira parceria do PS B. Os dois partidos já estão coligados em dez estados, e o PDT sinalizou que poderia ceder em prol do PSB em outros dois. Nesse cenário de conflagração, o PSB deve oficializar sua posição de neutralidade na convenção de domingo.
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