Fábio Zanini / Folha de Paulo
Da dupla de senhores de cabelos brancos que desfilava com um cartaz atacando a imprensa ao discurso num caminhão de som pedindo “bullying” sobre o Congresso, o tom do novo protesto dos camisas amarelas na avenida Paulista foi raivoso.
Certamente, a indignação era maior do que a da manifestação anterior dos bolsonaristas, em 26 de maio, que tinha uma pauta mais difusa. Neste domingo (30), a defesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve em um claro primeiro plano e contaminou o humor da multidão, mesmo quando o tema era outro.
O sentimento dominante era a necessidade de uma reação urgente para resgatar Moro, após uma sequência de reveses que incluiu os diálogos revelados pelo “The Intercept”, a aprovação do projeto de abuso de autoridade pelo Senado e o susto da quase soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Moro, afinal, é hoje uma das duas últimas figuras a unificarem a direita (a outra é o ministro da Economia, Paulo Guedes). Mesmo movimentos que se distanciaram de Bolsonaro, caso do MBL (Movimento Brasil Livre), mantêm seu apoio ao herói da Lava Jato e estiveram presentes na avenida, embora de maneira relativamente discreta.
Vendo o ex-juiz ser atacado, seus defensores foram para o revide. Por onde se olhasse era possível ver cartazes e ouvir palavras de ordem com provocações. “Esquerda escrota, pare de atrapalhar!”, era apenas um exemplo.
Até o vice, general Hamilton Mourão, há muito visto com desconfiançapelo público fiel ao presidente, foi resgatado em um cartaz que pedia: “General Mourão, faça a intervenção. Fim do congresso e do STF”.
As críticas ao Congresso, sempre presentes em protestos da direita, foram especialmente duras desta vez. Do alto do carro de som do movimento Vem Pra Rua, normalmente visto como mais moderado em comparação com os congêneres, um orador entoou: “Eu estou vendo que o povo está bravo! O povo quer que o Congresso Nacional acorde!”.
À grita contra o projeto do abuso de autoridade somou-se a constatação, de resto óbvia, de que o sucesso do governo de Jair Bolsonaro depende da recuperação econômica e da reforma da Previdência em particular.
“Rodrigo Maia, presta atenção, nós queremos a reforma de 1 trilhão!”, puxou em coro um locutor no caminhão do Vem Pra Rua, em referência ao montante que, segundo o Ministério da Economia, será economizado com a reforma em dez anos.
No vizinho caminhão do movimento Nas Ruas, o recado foi mais direto, e quase ameaçador. “Todo mundo aqui tem que pressionar os deputados pela reforma. É para fazer bullying digital, sim”, afirmou um coordenador.
Segurando um cartaz em defesa de Moro, Jaime Araújo, 51, funcionário de uma empresa que fabrica plástico, disse que a vontade do povo estava na avenida, e não no Congresso. “Existe uma parcela do Congresso que não foi renovada na eleição, por isso é importante a pressão popular”, disse.
Glenn Greenwald e a imprensa em geral foram alvos preferenciais. A Folha foi chamada de “esquerdiota”, “escrota” e “comunista”, entre outros termos, por pessoas que viravam as costas e se recusavam a dar entrevistas.
“A imprensa comprou a versão do Intercept. Perdeu o norte, transformou o jornalismo em militância”, disse Irineu Ramos, que se apresentou como jornalista e, ao lado do empresário Jorge Fernandes, segurava um cartaz escrito “Imprensa Inimiga do Brasil”.
Não conseguiam dar dez passos sem ter de parar para um pedido de foto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário