Saída do isolamento social ficou mais arriscada pela falta de um trabalho coordenado na Federação
A localização geográfica do Brasil dava ao país condições de aprender com erros e acertos no enfrentamento da pandemia da Covid-19, à medida que o vírus Sars-CoV-2 se disseminava a partir de Wuhan, na China. Infelizmente, a vantagem não foi aproveitada como seria possível. Devido ao negacionismo do presidente Bolsonaro, que prejudicou a atuação do Executivo federal junto a governadores e prefeitos, na execução coordenada de medidas preventivas contra a doença e, na etapa seguinte, de retomada da normalidade.
Ao contrário, preocupado com efeitos da crise econômica causados nos seus projetos político-eleitorais pelo vírus, com o isolamento social e lockdowns, Bolsonaro esvaziou o Ministério da Saúde em plena aceleração da epidemia. Demitiu dois ministros médicos, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, entregando a pasta ao general de divisão Eduardo Pazuello, um interino que se eterniza. Sem poder intervir, por decisão do Supremo, em estados e municípios, no enfrentamento da epidemia, o presidente boicotou o trabalho de governadores e prefeitos, e é dessa maneira que o país começa a executar o relaxamento de quarentenas, em cada capital e estado.
Mas em um país que não consegue testar em massa a população — a falta de empenho do governo federal foi decisiva para o fracasso — este retorno é em alguma medida um voo cego.
Assim, o Brasil começa a reabrir as portas quando o país já ultrapassou os 45 mil óbitos pela Covid-19, a segunda marca mais elevada no mundo, apenas superada pelos mais de 119 mil mortos nos Estados Unidos, presidido por outro presidente negacionista, Donald Trump. Resta a governadores e a prefeitos de grandes cidades monitorar a ocupação de leitos de UTIs, e do número de mortos, para medir o pulso da epidemia. Há alguns indicadores que sinalizam arrefecimento na disseminação da doença, tanto em São Paulo quanto no Rio, existindo preocupação com o interior dos estados. Mas especialistas temem que o relaxamento ocorrido nos últimos dias nas duas capitais, por exemplo, possa resultar em um pico da doença nos próximos dez ou quinze dias.
A população deve se preparar para idas e vindas no fim do isolamento social, dada a característica de fácil disseminação do vírus, reforçada por um afrouxamento descuidado do isolamento, ajudado pelas necessidades financeiras da grande massa de trabalhadores informais e de receitas tributárias por parte de governantes, mas que podem prejudicar a própria recuperação dos negócios. A China, modelo de lockdowns e de isolamento bem-sucedidos, acaba de fechar 11 bairros em Pequim, devido ao risco de um surto na cidade. É um dos casos a acompanhar.
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