No
Brasil faltam oxigênio, vacina, ministro da Saúde e presidente, mas panela faz
barulho
Afinal,
o que o ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, foi fazer em Manaus? Não viu, não ouviu e não soube
nada, nem que o caos estava instalado e que as pessoas estavam prestes a ver
seus pais, filhos e amores morrendo asfixiados, por falta de oxigênio nos hospitais. Ele
só foi lá para uma coisa: tirar foto. E aproveitou para empurrar cloroquina
encalhada para a população em pânico, como poção mágica.
O colapso de Manaus e a crise das vacinas são a história de uma tragédia anunciada. Cadê o oxigênio para o Amazonas? Cadê as vacinas para os brasileiros? Cadê as seringas e agulhas? Cadê um plano nacional detalhado com governadores e prefeitos? Cadê o “dia D e a hora H”? Já foram em março, dezembro, fevereiro, janeiro e o último chute foi o dia 20, próxima quarta-feira. Se fosse uma guerra tradicional, os soldados do intendente ficariam sem armas, sem balas e sem coturnos.
A ida de Pazuello a Manaus teve o efeito oposto ao desejado: jogou a tragédia devidamente no colo do governo federal e agravou de vez a irresponsabilidade criminosa do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Os vídeos, fotos e depoimentos desesperados de médicos e parentes rodaram o mundo, revelando um pandemônio, um inferno. Bolsonaro tentou culpar o Supremo, a nova cepa do vírus, o raio que o parta. Não cola. E ainda produziu duas pérolas: “Do Brasil, cuido eu”, “Fizemos a nossa parte”. Sim, nós vimos.
E
por que Bolsonaro insistiu tanto em trazer um tico de vacina da Índia a toque
de caixa? Anunciou avião para um bate-volta, enviou bilhetinho para o
primeiro-ministro Narendra Modi e acionou o
Itamaraty para implorar aos indianos ao menos 2 milhões de doses (para 260
milhões de habitantes...). Todo esse empenho, que nunca se dignou a ter contra
a pandemia, foi com um único objetivo: tirar a foto do primeiro vacinado antes
do governador João Doria.
Foi
tudo um blefe. Desde o início, a Índia desconversou, pois a prioridade,
obviamente, eram 1,3 bilhão de indianos. O governo brasileiro, porém, garantiu
que as doses viriam, anunciou o voo para quinta-feira, adiou para sexta, contou
com a autorização de uso emergencial da Anvisa hoje, convocou governadores para
a próxima terça e marcou o início da vacinação para quarta. Puf! O cronograma
evaporou. Era só parte da realidade paralela de Bolsonaro. Nem a Fiocruz pôde
salvar.
O
presidente, que vai negar a pandemia até o túmulo, combate isolamento e
máscara, chama de “maricas” quem leva ciência e
vida a sério, desdenha dos agora quase 210 mil mortos e trabalha contra
vacinas. “Não tomo, pronto!”, anunciou, para confirmação internacional de que
tipo de pessoa preside o Brasil. E insiste em fazer campanha contra a
obrigatoriedade da vacina – que salva vidas e é a única fórmula para vencer a
pandemia e retomar a normalidade da economia e do País.
A
dupla Bolsonaro-Pazuello é do balacobaco. “Quem manda” se esmera em negar a
pandemia e dar maus exemplos. E “quem obedece” virou chacota. Os dois produzem
um espetáculo grotesco ao buscar um destino para milhões de doses de cloroquina
que Bolsonaro pediu ao “amigão” Donald Trump, obrigou os laboratórios das
Forças Armadas a produzir e agora empurra goela abaixo das secretarias de
Saúde.
Sem a vacina da Índia (que é para inglês ver e bolsonarista bater bumbo), sem uma gota da Pfizer ou da Moderna, sem negociação com a Sputnik 5, que corre por fora, Bolsonaro só tem uma chance de dar uma rasteira em Doria e tirar a foto antes dele: “roubando” para si a vacina “do Doria” e “da China”. Goste ou não, ela é a única no Brasil, onde faltam oxigênio, vacina, ministro da Saúde e presidente, mas panela faz barulho. Dilma Rousseff sabe disso. Bolsonaro está começando a aprender.
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