Apesar
do descalabro produzido pelo governo, matemática ainda favorece o presidente
nesse processo
Jair
Bolsonaro está mais próximo de eleger aliados para comandar a Câmara e o Senado
do que de perder o cargo. O presidente já foi minoritário no Congresso,
mas adquiriu
proteção suficiente para ficar no poder, apesar do descalabro produzido
pelo governo na pandemia.
Hoje, o
cálculo do impeachment beneficia Bolsonaro. Para que a destituição
avance, são necessários os votos de 342 dos 513 deputados. Graças ao apoio do
centrão, o governo tem a seu lado um bloco que pode superar 200 parlamentares,
o que torna essa matemática impossível.
Presidentes têm mais chances de escapar de processos desse tipo em ambientes políticos com alta fluidez ideológica. Como o centrão tem mais afinidades do que divergências com Bolsonaro, o governo consegue atrair essas siglas com facilidade, distribuindo cargos e verbas públicas.
Defensores
do impeachment argumentam que é necessário abrir o processo mesmo que não haja
apoio inicial suficiente para derrubar o presidente. Segundo eles, é possível
construir o placar ao longo do caminho, numa campanha que exponha os crimes de
responsabilidade praticados por Bolsonaro e auxiliares.
Ainda
que isso seja possível, uma força contrária também atua a favor do governo,
nesse caso. Na largada, se a percepção dos parlamentares for que Bolsonaro tem
condições de sobreviver, muitos escolherão ficar com o presidente para colher
benesses oficiais. Com isso, o lado pró-impeachment pode ficar mais perto dos
150 do que dos 342 votos.
Um
processo frustrado tem seus custos. Uma vitória de Bolsonaro exporia a
fragilidade da oposição e fortaleceria os vínculos do Congresso com o governo.
O presidente diria que derrotou um golpe e desestimularia novos pedidos de
destituição.
O impeachment ainda depende de uma virada nas condições políticas e sociais. Às vésperas da queda de Fernando Collor, 84% dos brasileiros diziam que ele estava envolvido em corrupção. Agora, só 8% afirmam que Bolsonaro é o principal culpado pelas mortes na pandemia.
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